A força-tarefa da Operação Lava Jato vai investigar a doação de R$ 350 mil feita pela empreiteira OAS para uma paróquia frequentada pelo ex-senador Gim Argello (PTB) no Distrito Federal. De acordo com as investigações preliminares que levaram à deflagração da 28.ª fase da operação nesta terça-feira (12), a OAS pagou o valor a título de propina para que executivos da empreiteira não fossem convocados a depor na CPI ou na CPMI da Petrobras no Congresso.
Para a força-tarefa, há mais do que uma suspeita de que a doação teria sido uma forma de lavagem de dinheiro, que seria repassado ao ex-senador. Isso porque o valor da doação teria sido previamente combinado com o então parlamentar. No despacho que determinou a prisão de Argello, o juiz federal Sergio Moro transcreve e-mails apreendidos que fazem referência à transação.
Em uma das conversas entre executivos da OAS, Léo Pinheiro diz que precisa “atender uma doação” para a Paróquia São Pedro no valor de R$ 350 mil. O “Centro de Custo” do qual o dinheiro deveria sair, segundo a mensagem, é da obra da Refinaria Abreu e Lima. O executivo ainda cita o “Projeto Alcoólico” como justificativa para a doação. Alcoólico, de acordo com os investigadores, era o codinome usado para se referir ao senador Gim Argello.
Em outra conversa, ao explicar que não fez a doação ainda, o executivo Dilson Paiva afirma que Roberto Zardi vai procurar o padre da paróquia pessoalmente para tratar da questão. Os executivos foram alvos de mandados de condução coercitiva nesta terça.
UTC
Em depoimentos em regime de colaboração premiada, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, diz que a empreiteira pagou R$ 5 milhões para que Argello impedisse a convocação de executivos da empresa na CPI e na CPMI. No despacho da prisão do ex-senador, Moro traz uma cronologia dos acontecimentos que corroboram a afirmação de Pessoa.
“Verificado ainda que, de fato, Ricardo Ribeiro Pessoa não foi convocado para prestar depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado, muito embora tenham sido apresentados requerimentos para ouvi-lo”, diz Moro na decisão. “Da mesma forma, Ricardo Ribeiro Pessoa e os demais empreiteiros também não foram ouvidos na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Petrobras, muito embora, tenha sido apresentado requerimento nesse sentido.”
Porém, depois que Argello perdeu o mandato, no final de 2014, quando não foi reeleito, Pessoa foi intimado pela CPI da Petrobras. “Ricardo Ribeiro Pessoa culminou finalmente por ser ouvido, mas pela Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada na Câmara para apurar o esquema criminoso que vitimou a Petrobrás, isso apenas em 16/09/2015, sem agora qualquer participação do não mais senador Gim Argello”, ressalta Moro.
Apesar das doações da UTC terem sido realizadas a partidos políticos da coligação partidária pela qual Argello concorreu ao Senado em 2014, Moro diz que “não há nenhuma prova de que os dirigentes desses partidos estariam envolvidos nos ilícitos, sendo mais provável que o investigado Gim Argello não tenha revelado a eles a origem escusa do numerário e que os valores tinham por objetivo o custeio da campanha do próprio Gim Argello”.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”