A delação de Ângulo só foi encaminhada ao Supremo, portanto, em razão da menção a políticos com foro privilegiado, como o senador Fernando Collor (PTB-AL).| Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil/Fotos Públicas

Rafael Ângulo, funcionário de Alberto Youssef e entregador do dinheiro intermediado pelo doleiro no esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato, detalhou em delação premiada a forma de entrega de dinheiro envolvido no esquema a executivos e políticos. No último dia 26, o ministro Teori Zavascki retirou o sigilo dos depoimentos do funcionário do doleiro. Ao Ministério Público, Ângulo relata, por exemplo, ter ido quatro vezes à Camargo Corrêa em 2012, sendo três delas para retirar dinheiro.

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As entregas de valores na empreiteira eram feitas por com João Auler - ex-presidente do Conselho de Administração da empreiteira - ou Dalton Avancini, ambos condenados pelo juiz federal Sergio Moro, da Justiça Federal em Curitiba. Os valores ficavam entre R$ 200 e R$ 400 mil. Em 2013, foi à construtora duas vezes para entregar em cada uma delas R$ 50 mil a Eduardo Leite, ex-diretor vice-presidente da empresa.

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Além de citar a Camargo Corrêa, Rafael Ângulo faz menção a operações junto a Galvão Engenharia, Sanko Sider, Braskem e OAS. A delação de Rafael Ângulo, fechada em dezembro do ano passado, foi mantida em sigilo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) até agora. A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), Zavascki retirou o sigilo dos depoimentos. Ainda há outras delações premiadas ocultas no sistema do STF, como os depoimentos do dono da UTC, Ricardo Pessoa, e do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano.

O funcionário de Youssef narrou que a MO Consultoria, uma das empresas controladas pelo doleiro, emitia notas para justificar os pagamentos feitos pela Galvão Engenharia. Posteriormente, segundo Ângulo, eram realizados saques programados entre R$ 30 mil e R$ 80 mil por Waldomiro Oliveira, tido como laranja de Youssef à frente da MO. Era Rafael Ângulo quem acompanhava Waldomiro nos saques. Parte do dinheiro ficaria com Waldomiro, outra parte com Youssef e o restante era repassado pelo doleiro a “políticos, representantes de empreiteiras e pagamentos de contas pessoais e de terceiros”, segundo os depoimentos.

Outra empresa de fachada usada por Youssef, a GDF, serviu para realizar mais uma operação investigada na Lava Jato. A empresa emitiu notas fiscais para a Sanko Sider para que o doleiro recebesse dinheiro por ter intermediado venda de tubos de aço para a Camargo Corrêa. A venda teve intermediação com Eduardo Leite, um dos dirigentes da empresa. Ângulo disse ter feito entregas de dinheiro em espécie para o executivo, que retirava os valores no escritório. A delação do funcionário de Youssef traz uma planilha parcial de repasses a Leite, com 40 entregas que vão de R$ 20 mil a R$ 500 mil entre junho de 2010 e fevereiro de 2014.

Sobre a OAS, Ângulo diz que a empresa tinha uma “conta corrente” com Alberto Youssef em que transitavam dólares, euros, reais e que “inclusive se levava dinheiro em dólar para o exterior”. O fluxo de dinheiro, segundo Ângulo, oscilava entre R$ 300 mil e R$ 500 mil.

A petroquímica Braskem, controlada pela Odebrecht, também é citada por Ângulo. Ele diz ter comparecido “inúmeras vezes” na empresa e posteriormente na Odebrecht para entregar contas para depósitos fora do Brasil ao executivo Alexandrino de Alencar. Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa já haviam dito em delação que a Braskem pagou vantagens ao PP para ser beneficiada na compra de produtos da Petrobras.

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As investigações relacionadas aos executivos correm na Justiça Federal do Paraná, conduzidas pelo juiz Sergio Moro. A delação de Ângulo só foi encaminhada ao Supremo, portanto, em razão da menção a políticos com foro privilegiado, como o senador Fernando Collor (PTB-AL).