As 3,5 mil pessoas que lotaram o ginásio do Círculo Militar do Paraná, em Curitiba, ficaram em polvorosa quando o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, segurou o microfone para dar início ao seu discurso no seminário Democracia na América Latina.
Em uma fala de aproximadamente 40 minutos, o senador conseguiu arrancar dezenas de aplausos do público ao enfatizar duras críticas à desigualdade e ao consumo compulsivo e falar sobre os desafios da democracia em todo o mundo.
Curitibanos enfrentam fila e disputam selfies com Pepe Mujica
Leia a matéria completa“Amigos, vou falar devagar”, começou alertando Mujica, que ofereceu o discurso principalmente para os estudantes presentes. “Esse proletariado que vocês vão ser tem grande responsabilidade de não cometer os erros do meu tempo. Minha geração pensou que nacionalizando os meios de produção e melhorando a distribuição teriam um homem novo. Grande erro. Se não muda a cultura, não muda nada”.
Mujica engatilhou seu discurso com várias denúncias ao que chamou de “crescimento econômico falso”, aquele que torna o homem dependente do trabalho. Da mesma forma, ele criticou o consumo compulsivo, que , muitas vezes, assume valores maiores que a própria vida.
“A vida é um milagre (...). Você não pode ir ao mercado e comprar cinco anos de vida (...). Se gasta todo o tempo da sua vida atras da ilusão de querer comprar, que objetivo tem a sua vida? Que tempo você teve parar amar, para seus amigos, para seus filhos, para as coisas eternas que te fazem felizes? É preciso trabalhar para suprir suas necessidades materiais, mas a vida não é só trabalhar. Tem que ter tempo para ser livre”.
Ele falou também sobre o avanço das novas tecnologias. “O que pode ser uma ferramenta de democracia também pode ser um instrumento de submissão”, disse, alertando que o homem não pode conviver em uma sociedade de “ordem e mando”.
Entre os temas abordados pelo ex-presidente entrou ainda a grave crise de refugiados que tem feito milhares de vítimas. Ele criticou a postura de países que se unem para conter a chegada de imigrantes e opinou que “as fronteiras nacionais terão que ser cada vez mais porosas”, mesmo “apesar dos muros que querem construir”.
Na parte final de sua fala, Mujica – que disse encontrar hoje uma América Latina desconjuntada – reiterou a necessidade de incorporar as novas tecnologias ao interesse da sociedade. “A democracia de vocês há de ser muito mais desenvolvida que a nossa democracia representativa. A democracia de vocês não terá limites porque será digital”.
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