Apostando na divisão da base governista, um grupo de deputados está reunido na tarde desta segunda-feira para lançar, oficialmente, a chamada terceira via, por uma candidatura à Presidência da Câmara de Deputados, em oposição aos governistas Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). No encontro, que acontece num hotel da região da Avenida Paulista, os parlamentares evitaram lançar seus próprios nomes como candidatos ou sugerir alguém para a disputa. Em sintonia, todos discursaram a favor de se lançar um nome capaz de retomar a credibilidade da Casa.
- Essa reunião não está pautada sobre nomes, mas sobre uma plataforma. O que é preciso é ter uma pessoa comprometida no resgate da ética da Câmara - disse a deputada Luiza Erundina(PSB).
Segundo ela, Rebelo e Chinaglia não são boas opções para ocupar a presidência nessa nova legislatura porque estão ligados a um mandato anterior marcado por denúncias de corrupção.
Gabeira diz que nome pode até sair da base do governo
Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos líderes do grupo, disse que o novo nome pode até sair da base governista.
- Existe, da parte de alguns companheiros, uma posição em buscar um candidato da base do governo, do PMDB e do PT, mas ele precisa estar com sintonia. Precisamos restabelecer autonomia da Câmara, uma relação equilibrada entre medidas provisórias e nossos projetos, a reconstrução de pontes com a sociedade e contribuir para o crescimento do país - disse.
Gabeira descartou a sua candidatura por não se considerar popular entre alguns setores da Casa. O deputado enfrentou em plenário o então presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), atuou em investigações parlamentares que implicaram outros deputados e, mais recentemente, foi um dos que se opuseram ao aumento de salário dos parlamentares.
O deputado considera que Aldo e Chinaglia não levantam a bandeira da reconstrução das ''pontes com a sociedade''.
- Eles têm, evidentemente, o apoio do presidente, a simpatia do Planalto, inclusive um ministério caso um deles desista. Mas eles não são candidatos que nasceram dentro da Câmara - disse Gabeira, criticando a postura dos dois parlamentares ao defenderem o aumento de 91% para os deputados, no fim do ano passado.
Nesta mesma linha, o deputado Raul Jungmann (PPS) disse não estar no páreo e que sua função no grupo é de articulação em torno de uma terceira via.
- Precisamos romper com a legislatura anterior, ter alguém com capacidade de dar um choque republicano e recuperar a independência perdida daquela Casa - disse o deputado, que foi duro nas críticas contra Chinaglia e Rebelo.
- Os dois são farinha do mesmo saco quando não rompem com essa legislatura. O Aldo é auxiliar do Lula e o Chinaglia representa a aliança do José Dirceu com a Marta Suplicy. Essa não é uma crítica pessoal, mas eles representam a servidão ao imobilismo - disse Jungmann.
O deputado ainda mandou recado ao ministro das Relações Internacionais, Tarso Genro.
- Tarso, se o Chinaglia chegar ao poder, você não vai mandar nada. Quem vai voltar a comandar é o José Dirceu.
Do ninho tucano, o deputado Paulo Renato Souza também defendeu a recuperação da imagem da Câmara.
- Precisamos ter na Câmara alguém preocupado em recuperar a imagem da Casa e essa pessoa não pode estar vinculada com os escândalos que assistimos.
Para o deputado Chico Alencar (PSOL), Rebelo e Chinaglia representam a 'pactuação com o fisiologismo'.
- Há um continuísmo medíocre no Brasil. Estamos afogados na superfície da baixa política - disse.
Tarso se encontra com líderes de dez partidos
Neste contexto, Tarso Genro começa, também nesta segunda-feira, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em férias, um ciclo de reuniões com os presidentes dos dez partidos aliados que formam o Conselho Político. O objetivo é chegar a um nome de consenso e em plena sintonia com o Palácio do Planalto.
Nas conversas, serão mapeadas as intenções de voto em Aldo e Chinaglia e as chances de crescimento da terceira via. O temor é que se repita o cenário de 2005, quando um racha no PT levou à eleição de Severino.
O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana, entende que para resolver o impasse na disputa pela presidência da Câmara o presidente Lula deverá oferecer um ministério ao candidato da base que recuar . O petista ressaltou que esta era sua opinião pessoal e que o ministério não seria um prêmio para a desistência, mas o reconhecimento da importância do aliado para assumir o primeiro escalão do governo.
Aldo Rebelo disse duvidar das declarações do líder.
- Não creio que o deputado Henrique Fontana, pelo cavalheirismo dele... possa falar em ministério para resolver uma disputa no Legislativo - afirmou o presidente da Casa.
Apoio de governadores a Aldo é contestado por Chinaglia
Aldo calcula ter o apoio de 17 governadores a sua campanha pela reeleição. Seu adversário Chinaglia contesta esse amplo leque de adesão das lideranças estaduais. O petista alega que alguns nomes ou manifestaram neutralidade ou disseram apoiá-lo.
Mas enquanto tomava um café com um grupo de jornalistas em seu gabinete, nesta manhã, Aldo recebeu uma boa surpresa. O governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), ligou para dizer que estava do seu lado.
Na lista dos 17 figuram importantes nomes da oposição, entre eles os tucanos José Serra (São Paulo) e Yeda Crusius (Rio Grande do Sul), os dois com forte influência sobre suas bancadas na Câmara.
Na terça-feira, Aldo visitará o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PFL). Aldo Rebelo tem o PFL com um dos avalistas de sua campanha e trabalha para conquistar parcela maior do PSDB e do PMDB, que está mais próximo de Chinaglia.
Presente de Cesar vira mascote de Aldo
E do prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), Aldo recebeu uma estátua do corneteiro de Pirajás, personagem que teria colaborado com a vitória sobre os portugueses em 1822. Aldo pôs a estátua em sua mesa e disse que ela será sua mascote na campanha pela reeleição. Na semana passada, ao garantir que não recuaria de sua candidatura, Aldo disse que seu lema agora seria o do corneteiro:
- Meu lema agora é o do corneteiro de Pirajá: o toque de avançar a cavalaria - disse Aldo na ocasião.
Conta a história que o corneteiro do Exército Luiz Lopes teria sido decisivo na vitória do Brasil contra Portugal pela independência, na Batalha dos Pirajás. Com a batalha praticamente perdida, o comandante brasileiro teria ordenado que as troas se retirassem, mas o corneteiro deu o toque de avançar, o que teria dado ânimo à tropa e feito o inimigo se retirar.