Fachada da Assembleia: cada um dos 54 parlamentares têm à disposição R$ 110 mil por mês.| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Os salários são significativamente mais altos no Parlamento do que no nosso setor, que paga em média R$ 1,2 mil mensais.”

Luciana Bechara, diretora do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Curitiba.
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Os deputados estaduais retomaram na semana passada a discussão sobre um possível reajuste das verbas de gabinete. Por enquanto, as discussões ocorreram apenas nos bastidores – oficialmente, o presidente Ademar Traiano (PSDB) não admite que venha sofrendo pressão dos colegas pelo reajuste. No entanto, a Gazeta do Povo apurou que vários parlamentares vêm se mostrando insatisfeitos pelo fato de não terem tido reajuste nas verbas nos últimos três anos, enquanto a Câmara dos Deputados, por exemplo, concedeu reajuste de 18% em abril.

Atualmente, cada um dos deputados estaduais paranaenses tem direito a uma verba mensal de R$ 110 mil, sem contar o salário do próprio parlamentar. A maior parte é destinada aos salários dos até 23 funcionários comissionados que cada um pode contratar: são R$ 78,5 mil. Outros R$ 31,4 mil são destinados a ressarcir gastos com despesas relacionadas ao mandato, o que inclui envio de correspondências, impressão de material de divulgação, diárias e combustível. Por ano, são R$ 1,3 milhão.

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Custo

Veja quanto circula de dinheiro em cada gabinete parlamentar e nas pequenas empresas.

  • Cada gabinete parlamentar na Assembleia Legislativa custa R$ 1,3 milhão ao ano.
  • No total, os 54 gabinetes custam R$ 70,2 milhões por ano.
  • Um gabinete na Câmara de Curitiba gasta R$ 832 mil.
  • Um gabinete na Câmara dos Deputados custa R$ 2 milhões por ano.
  • 30,4% das empresas brasileiras têm faturamento anual menor do que R$ 60 mil.
  • Outros 46,8% das empresas têm faturamento inferior a R$ 360 mil/ano.

De acordo com o Censo das Empresas divulgado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), esse valor é maior do que o faturamento de pelo menos 77% das empresas do país. Ultrapassa o valor dos microempreendedores individuais (30,4% das empresas); das microempresas (46,8% do total); e ainda fica acima de um porcentual indefinido das empresas de pequeno porte (que, por lei, têm faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 3,6 milhões).

Segundo Luciana Bechara, diretora do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Curitiba, uma empresa do setor precisa de pelo menos seis a sete anos de atuação para atingir um faturamento de R$ 1,3 milhão. “Parece que os salários também são significativamente mais altos no Parlamento do que no nosso setor, que paga em média R$ 1,2 mil mensais”, diz ela. Os salários nos gabinetes ficam, em média, em R$ 3,4 mil.

Luciana Bechara conta que sua indústria, especializada em roupas para bebê, tem um número muito semelhante ao dos funcionários de um gabinete parlamentar: são 22 pessoas no momento, que tocam a fábrica, uma loja física, uma loja virtual e o escritório. Com metade de seus funcionários trabalhando na fábrica, a marca produz entre 12 mil e 15 mil peças de roupas por mês.

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Aumento de verba servirá para tentar recuperar imagem depois de polêmicas, diz especialista

Para o cientista político Sérgio Braga, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os parlamentares podem desejar o aumento das verbas de gabinete como maneira de melhorar sua popularidade depois dos eventos do primeiro semestre deste ano. Em fevereiro, muitos deputados entraram em um ônibus da tropa de choque da Polícia Militar para chegar à Assembleia cercada por manifestantes. Já em abril, a reforma da previdência estadual foi votada enquanto a PM deixava 213 pessoas feridas em frente ao prédio do Legislativo.

“Eles apostam que a melhor maneira de melhorar a imagem de cada um é aumentar a comunicação com as bases eleitorais. E isso tem custos”, diz Braga, ressaltando despesas com viagens, hospedagem e impressão de materiais de divulgação do mandato.

No entanto, de acordo com o cientista político, embora possa ser positivo para cada deputado, isso prejudica a imagem do Parlamento como um todo. “Só faz com que a população veja o Legislativo como algo completamente descolado da realidade.”

A situação fica ainda pior, de acordo com Braga, devido ao momento ruim da economia, que leva os governos a fazerem ajustes fiscais, aumentando impostos e tirando dinheiro da economia. “O Legislativo precisaria era fazer gastos para ter um corpo funcional mais qualificado, para aumentar a transparência, como vêm fazendo outras assembleias. Mas os deputados daqui, se aprovarem esse reajuste, estarão pensando pequeno novamente”, avalia. (RWG)