A Gazeta do Povo e cinco profissionais do jornal receberam nesta quarta-feira (28) o “Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa”.
Por reportagens publicadas em fevereiro sobre a remuneração de membros do Poder Judiciário e do Ministério Público do Paraná, o jornal e os profissionais que assinaram o material – os jornalistas Chico Marés, Euclides Lucas Garcia e Rogerio Galindo, o infografista Guilherme Storck e o analista de sistemas Evandro Balmant – passaram a ser alvos de quase 50 ações judiciais movidas por magistrados e promotores de Justiça.
Embora tivessem conteúdo praticamente idêntico, as peças foram movidas individualmente, obrigando os profissionais a percorrer quase 30 cidades no Paraná para poderem participar das audiências. O caso ganhou repercussão nacional e, atendendo a um pedido do jornal, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, no final de junho, a suspensão de todas as ações em trâmite.
A ministra ainda não julgou o mérito da Reclamação feita pelo jornal no STF. Até o julgamento, as ações seguem paralisadas, em função de uma decisão provisória dada pela ministra.
Francisco Mesquista Neto, do jornal O Estado de S.Paulo e à frente do Comitê Liberdade de Expressão da ANJ, destacou a preocupação com o episódio, classificado por ele de “enorme arbitrariedade”.
“Se em outros anos a entrega do Prêmio ANJ teve uma dimensão efusiva e congratulatória, neste ano a honraria representa um justo reconhecimento às melhores práticas jornalísticas e à determinação de um jornal de cumprir com a missão de serviço público. Há, entretanto, um elemento de apreensão no reconhecimento que fazemos à Gazeta do Povo e seus profissionais, pois foram e ainda são objeto de assédio judicial”, afirmou Mesquita Neto.
Durante a solenidade de entrega do prêmio, em Brasília, Guilherme Cunha Pereira, presidente-executivo do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM), que edita a Gazeta do Povo, agradeceu a reação dos meios de comunicação ao episódio, que “perceberam a gravidade do atentado à liberdade de imprensa que se perpetrava”.
Ele lembrou que as reportagens do jornal foram “perfeitas, com boa carga informativa, mas triviais, no sentido de não fazer outra coisa que expor, com uma boa sistematização, o que já constava no Portal da Transparência”, disse Cunha Pereira.
Cenário de preocupação
Marcelo Rech, presidente da ANJ e à frente do jornal Zero Hora, também ressaltou a preocupação com o atual cenário da liberdade de imprensa. “Nunca tivemos tantos países vivendo sob regimes democráticos. Paradoxalmente, na condição paralela de presidente do Fórum Mundial de Editores, tenho subscrito quase diariamente notas e denúncias de violações constantes à liberdade de imprensa nos cinco continentes”, iniciou ele.
Em relação ao Brasil, Rech lembrou o que chama de “trágica estatística”: “Com 39 mortos desde 1992, ainda ostentamos o triste título de segundo país das Américas com maior número de comunicadores assassinados”.
O presidente da ANJ também mencionou o fato de jornalistas em cobertura de manifestações estarem sendo “alvos sistemáticos de agressões” e comentou que “nos jornais de hoje podemos ler a absurda violência praticada por um grupo de três dezenas de capangas que recolheram ontem as edições dos jornais Extra e o Fluminense em pontos de distribuição de São Gonçalo, na Baixada Fluminense, porque esses jornais traziam a notícia da denúncia do Ministério Público Federal contra um candidato local”.
Solenidade
A solenidade de entrega do prêmio ocorreu no início da tarde no hotel Royal Tulip Brasília Alvorada, em Brasília, e contou com a presença do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
O prêmio foi entregue pelo presidente da ANJ, Marcelo Rech, ao presidente-executivo do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM), que edita a Gazeta do Povo, Guilherme Cunha Pereira.
Também receberam certificados os profissionais que assinam as reportagens. Participaram da cerimônia o jornalista Euclides Lucas Garcia, o infografista Guilherme Storck e o analista de sistemas Evandro Balmant.
O diretor de Redação da Gazeta do Povo, Leonardo Mendes Júnior, recebeu o certificado em nome dos jornalistas Chico Marés e Rogerio Galindo, que não puderam estar presentes na solenidade.
Criado em 2008 pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), o “Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa” tem por objetivo homenagear pessoas, jornais ou instituições que tenham se destacado na promoção ou na defesa da liberdade de imprensa.