Analisar o currículo antes de contratar alguém. Balizar a gestão em decisões do conselho de administração. Corriqueiras nas empresas, essas práticas são quase uma exceção na política. E por isso chamaram a atenção para dois deputados estaduais eleitos do Espírito Santo ambos estreantes e que queriam inovar na maneira de compor seus gabinetes e conduzir seus mandatos.
Para escolher seus funcionários, o professor de Geografia Sérgio Majeski (PSDB) abriu processo seletivo nas redes sociais e pediu currículos. Depois, contratou uma empresa de consultoria para selecionar os mais gabaritados.
Em um primeiro momento, recebeu 140 currículos. Depois chegaram outros 160. Majeski conta ter feito um "cadastro de reserva" com os excedentes. Só não podia ser "militante radical do PT".
Na primeira reunião com a equipe, na semana passada, o deputado eleito cobrou produtividade e proatividade. "Deixei claro que ninguém ali estava arranjando emprego para os próximos 4 anos."
Já o deputado diplomado Padre Honório de Siqueira (PT) organizou conselhos em todas as regiões do estado, compostos por 100 voluntários ao todo. Os grupos foram divididos em 12 eixos, cada um voltado para áreas específicas, como saúde, educação e formação política.
Além de determinar a formação da equipe do parlamentar, os conselhos também serão responsáveis por levar demandas das regiões a Siqueira e assim pautar a sua atuação em plenário.
Fã dos papas Francisco e João Paulo II e da presidente Dilma Rousseff, Siqueira diz que adotou a prática do trabalho em grupo a partir de sua experiência na paróquia e também como diretor de uma escola. "Acredito que quanto mais gente pensando, mais se acerta", comenta.
No Paraná
No Paraná, fontes ouvidas pela reportagem afirmam que o que impera são as contratações por indicação política. "Só um ou outro assessor é contratado pelo currículo e para áreas mais técnicas, como contador e jornalista", diz um assessor, que preferiu não se identificar.
O professor de Ética e Filosofia Política da UEL Elve Cenci diz não se lembrar de nenhum caso de inovação na formação de gabinetes no estado. "Boa parte dos assessores funcionam mais como cabo eleitoral ou retribuição de apoio político", diz. Ele cita um caso curioso do interior de Minas Gerais, no qual um vereador fez um sorteio para preencher os cargos de seu gabinete. "Isso não é bom. No mínimo tinha de ter transparência nos critérios para escolha ", afirma.
Trato pessoal
Detentor de seis mandatos, o deputado estadual do Paraná Cleiton Kielse (PMDB) não conseguiu se reeleger na última eleição. Ele justifica as contratações por indicação política dizendo que "currículo nem sempre funciona". "Não adianta ter o melhor advogado do Paraná e o cara trabalhar como um cavalo. O trato pessoal é fundamental", diz. "Já contratei analfabetos que trabalhavam melhor que doutores." Para ele, os novos deputados devem manter as contratações de indicados politicamente, mas a tendência será de haver indicações mais técnicas. "O deputado que estiver mais organizado vai se dar melhor", diz.
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