O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes chamou de “estratosféricos” os valores de corrupção que são revelados durante a Operação Lava Jato e comparou o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco à uma moeda. O ministro participa de uma palestra do seminário Grupo de Líderes Empresariais (Lide), nesta segunda-feira, em São Paulo.
“No mensalão, passamos sete meses julgando um processo que envolvia R $ 170 milhões. E agora no petrolão, temos uma nova moeda: um Barusco vale R$ 100 milhões”, disse Mendes.
Ex-gerente executivo da diretoria de Serviços da Petrobras, Barusco firmou acordo de delação premiada e se comprometeu a devolver aos cofres da Petrobras mais de US$ 100 milhões, recursos desviados da estatal.
Gilmar Mendes fez mais comparações entre a dimensão dos dois escândalos políticos: “Se fossemos julgar, pela dimensão, o mensalão hoje, ele teria que ser julgado no Juizado de Pequenas Causas”, falou, sendo aplaudido por cerca de 400 pessoas, em São Paulo.
Segundo o magistrado, na época que o tribunal avaliou o mensalão, aquele era considerado o maior caso de corrupção da história do país. E que, de certa maneira, foi importante para o sucesso da Lava Jato.
Fatiamento
O ministro disse esperar que o STF reveja a decisão que “fatiou” os processos da Operação Lava Jato. A Procuradoria-Geral da República (PGR) enviou recurso ao Supremo para tentar reverter o desmembramento.
Em 23 de setembro deste ano, a maioria dos ministros entendeu que a investigação da Lava Jato não deveria ficar somente sob relatoria do ministro Teori Zavascki, responsável pelo caso na Corte, e sob os cuidados do juiz Sérgio Moro, que conduz a operação na primeira instância, em Curitiba.
“Acho que não foi uma boa decisão, a melhor decisão. Na época me posicionei. Espero que o STF tenha a oportunidade de rever”, afirmou. “Temos anunciado recurso da Procuradoria-Geral da República, e espero que o Tribunal se debruce sobre o tema.”
O pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mantido sob sigilo, contesta decisão do ministro Teori Zavascki, que desmembrou as investigações na estatal Eletronuclear. O recurso evoca a existência de provas, pessoas, empresas e partidos, agindo em uma mesma sistemática criminosa, nas obras da Usina Nuclear de Angra 3 e nos esquemas de cartel e corrupção na Petrobras.
Há uma semana, o caso sobre suposto pagamento de R$ 4,5 milhões em propinas relacionadas a obras de Angra 3 chegou à 7.ª Vara Federal do Rio, sob responsabilidade do juiz Marcelo Bretas. Funcionários já deixaram de identificar o processo como uma ação da Lava Jato e passaram a chamá-lo de Radioatividade, nome da operação deflagrada em julho que alcançou a Eletronuclear.