O diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, foi nesta terça-feira ao gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, para apresentar a ele os dois delegados - William Morad e Rômulo Barredo - que conduzirão as investigações sobre os grampos supostamente instalados de forma ilegal em telefones usados por Gilmar. Ao fim do encontro, Corrêa informou que o ministro prestará depoimento no inquérito como testemunha para apresentar sua versão dos fatos. Como o presidente da Corte tem direito a foro especial, caberá a ele próprio marcar data, horário e local para dar suas declarações.
- O ministro, como uma das pessoas que foi vítima do fato tido como ilegal, que é da interceptação do seu contato telefônico, terá que ser ouvido - declarou o diretor da PF.
A revista "Veja" publicou no fim de semana a degravação de uma conversa entre Gilmar e o senador Demóstenes Torres, que teria sido entregue à revista por um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A denúncia levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a afastar a cúpula da Abin na segunda-feira, entre eles o diretor-geral Paulo Lacerda . O substituto de Lacerda é o secretário de Planejamento, Orçamento e Administração, Wilson Roberto Trezza.
Lula diz que afastou cúpula para demonstrar transparência
Lula disse nesta terça que tomou a medida "para demonstrar que há transparência" na investigação sobre grampos contra autoridades dos três poderes. Em referência ao fato de a revista ter publicado a conversa gravada, Lula disse a jornalistas:
- Se algum de vocês souber, porque a fonte conversou com jornalista e não comigo, e quiser facilitar a investigação, a gente pode resolver logo o problema. Se não quiser, vamos ter que investigar.
PF oferece a Gilmar e Demóstenes possibilidade de acompanhar apuração
Corrêa também ofereceu a Gilmar a possibilidade de enviar alguém de sua confiança para acompanhar as apurações "para que seja uma investigação o mais transparente possível e com o maior rigor técnico". A mesma oferta havia sido feita ao senador Demóstenes Torres (DEM-GO), com quem o presidente da Corte conversava enquanto era gravado.
CNJ deve criar sistema para controlar número de grampos
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) deverá aprovar em seu plenário na próxima terça-feira uma resolução que cria um sistema para controlar o número de escutas telefônicas em curso no país. A proposta está em discussão desde junho e virou prioridade após os grampos no telefone de Gilmar Mendes, que também preside o CNJ. A resolução também deverá conter recomendações aos juízes. Uma delas é para que a escuta seja feita com equipamentos seguros e para que o teor dos diálogos seja mantido em sigilo. Outra recomendação é para que o juiz se certifique, antes de determinar a escuta, que o aparelho telefônico alvo da medida seja realmente de uso do investigado.
General Jorge Félix depõe na CPI dos Grampos
Também nesta terça-feira, o general Jorge Félix, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, prestou depoimento na CPI dos Grampos . O militar tem sob seu comando a Abin, suspeita de envolvimento na realização de grampos no Legislativo e no Judiciário. Ele admitiu que se trabalha com a hipótese que o grampo ilegal tenha sido realizado por algum agente sem autorização de seus superiores. Antes, o militar já havia dito que "certamente" não foi a agência - como instituição, ressaltou - que fez as escutas.
- Não descarto nenhuma hipótese, nem mesmo essa. Os servidores da Abin são seres humanos sujeitos a erros - afirmou.
O ministro não quis, no entanto, fazer suposições sobre quem teria sido o autor das escutas. Na segunda-feira, segundo relatos do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), Félix teria levantado suspeitas sobre a autoria do grampo sobre o banqueiro Daniel Dantas e o investidor Naji Nahas.
Alencar diz que toma cuidado ao telefone
O vice-presidente José Alencar foi na mesma linha do presidente Lula, defendendo a transparência na investigação. Perguntado se falava atualmente com tranqüilidade ao telefone, Alencar afirmou que sim, mas que às vezes lembra que pode estar grampeado.
- Com as namoradas agora eu tenho mais cuidado, brincou o vice-presidente - que é casado há mais de 50 anos.
Segundo Alencar, atualmente nenhum brasileiro está seguro de seu sigilo telefônico ou mesmo de comunicações pela internet.
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