Ao escolher a senadora paranaense Gleisi Hoffmann para substituir Antonio Palocci na Casa Civil e dar à pasta um perfil mais gerencial, a presidente Dilma Rousseff não conseguirá isentar a ministra de suas obrigações na articulação política. Como a Casa Civil é responsável por escolher projetos, definir cargos e atender reivindicações dos mais variados setores políticos, com ou sem experiência, Gleisi terá de se envolver diretamente com as negociações. "Não é uma função meramente técnica, exige decisão política", disse o cientista político Roberto Romano, da Universidade de Campinas (Unicamp).
Se a ideia da presidente é encontrar a sua "Dilma", à imagem e semelhança do que ela foi quando assumiu a Casa Civil no governo Lula, a presidente pode estar comprometendo seu governo, avalia Romano. "A Dilma tinha posições duras, mas tinha o Lula para suavizar as medidas. Agora não tem mais", comparou.
Como a presidente terá de recompor sua base aliada, Romano acredita que Palocci - por sua capacidade de convencimento e de coalizão - deixa uma lacuna no governo. "Neste ponto, o Palocci vai fazer falta. As qualidades que ele tinha não existirão em termos imediatos", afirmou. Na opinião do cientista político, será difícil encontrar alguém à altura de Palocci.
Chama a atenção de Romano o perfil técnico e ideológico da nova ministra, sem muito traquejo político, à exemplo da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, isso ficou claro quando Gleisi defendeu a saída de Palocci no Senado. "Ela não tem muito jogo de cintura", resumiu.
Para o cientista, "está mais do que na hora" de substituir o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. No entanto, se a presidente pretende se engajar mais na articulação com o Congresso, terá dificuldades devido à sua falta de experiência política e seu perfil enraizado de militante de esquerda.
"É possível que Dilma mude o comportamento e o seu trato com auxiliares. Mas as pessoas (de esquerda) têm certa ojeriza por essa coisa do 'é dando que se recebe'. Isso tende a criar na Dilma ojeriza e segurar uma atitude mais ríspida será mais difícil para ela", prevê.
De acordo com o analista político, Dilma também não poderá recorrer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ausência de um articulador político eficiente. "Se ela tem no Lula um articulador político, ela aparecerá como comandada. Aí a impressão de mandato tampão aumenta enormemente", observou.
Sem Lula, Palocci e um bom articulador, caberá a Dilma lidar diretamente com os anseios do PT e as demandas do PMDB. "Ter os dois como inimigos é um problema sério. Coordenar esses dois partidos é um trabalho de engenharia política muito grande", concluiu.
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