Há rumores no estado de que o senhor desejaria uma aliança para apoiar o senador Osmar Dias (PDT) para o governo do Paraná em 2010. É verdade?
O senador Osmar Dias pertence a um partido aliado do governo e tem dado um apoio importante no Senado. Claro que eu gostaria que os partidos aliados estivessem todos juntos na próxima eleição. Não só no Paraná. Se houver um acordo em torno da candidatura do senador Osmar Dias, do ministro Paulo Bernardo, do ministro Reinhold Stephanes ou de qualquer outro aliado, vou ficar feliz porque essa aliança estará fortalecendo a aliança nacional para minha sucessão. Mas ainda é muito cedo para falar em nomes.
Nas últimas eleições, o senhor e o governador Roberto Requião (PMDB) só trocaram apoios na reta final do segundo turno. Por quê?
Em 2006, contrariando os meus apelos, o PT do Paraná decidiu lançar candidato próprio ao governo estadual (o senador Flávio Arns). Eu propunha que o partido indicasse um candidato a vice na chapa do governador Requião. Mas o partido entendeu diferente e isso não foi possível. O governador achou melhor ficar neutro na disputa para a Presidência. Acabou que nenhum de nós venceu no primeiro turno. No segundo turno, com o PT fora da disputa, nossa aliança aconteceu de forma natural, pela maior afinidade política. E vamos trabalhar firme para estarmos juntos mais uma vez em 2010.
Como o senhor avalia a relação com Requião ao longo desses seis anos?
Tem sido a melhor possível. Temos algumas divergências em certos momentos, o que é normal na política. Mas, no essencial, temos sido parceiros em favor do povo paranaense.
Dilma Rousseff é mesmo o principal nome do PT para sucedê-lo em 2010?
Não faltam nomes no PT e em outros partidos da aliança política do governo para assumir essa tarefa. No entanto, considero que a companheira Dilma, por sua extraordinária capacidade de trabalho, competência, seriedade e determinação, por ter reorganizado o setor elétrico e estar preparando a infraestrutura do país para um longo ciclo de crescimento, com o PAC, se destacou como potencial candidata. Uma candidatura não depende apenas da vontade. É preciso uma série de circunstâncias que só estarão bem claras mais para o fim do ano. Mas eu acredito que ela tem plenas condições de ser a candidata do PT à minha sucessão.
O senhor tem mantido um relacionamento amistoso com os principais nomes do PSDB, José Serra e Aécio Neves. A oposição ficou mais "mansa" na sua gestão ou o senhor é que foi mais conciliador?
Desde o início, procurei fazer no governo um grande pacto entre capital e trabalho. Aliás, esse era o simbolismo da nossa chapa na eleição de 2002: um sindicalista, representante dos trabalhadores, e um grande empresário, o Zé Alencar (vice-presidente), representando os patrões. Os dois nascidos em famílias humildes, que venceram na vida, mas não esqueceram suas origens, acreditando que nosso país só tem futuro se a renda for distribuída de forma mais justa e os pobres e miseráveis puderem viver com mais dignidade. Fazer as mudanças necessárias para isso acontecer não é fácil, mas nós mostramos que não é impossível. Mas não podemos governar com ódio, pensando só em fazer com a oposição o que ela fazia com a gente quando estávamos no lugar dela. Para governar em benefício do povo, não podemos pensar em favorecer apenas os aliados. O povo não quer saber se o prefeito é do partido A, o governador do partido B e o presidente do partido C. O povo quer que todos trabalhem juntos para que os serviços públicos sejam melhores, seus filhos tenham educação e saúde de qualidade, seus idosos e parentes com deficiências não sejam abandonados, sua família não passe fome nem necessidades básicas e a renda circule na economia para que não falte emprego e trabalho. Por isso, tomamos a decisão de governar sem discriminar os adversários políticos.
Como o senhor vai lidar com uma possível volta do debate sobre terceiro mandato em 2009?
Não acredito que esse debate volte. Não é bom para a democracia ficar mexendo nas regras eleitorais de acordo com as conveniências desse ou daquele partido. Isso vale também para os que querem acabar com a reeleição e aumentar os mandatos para cinco anos. A Constituição tem só 20 anos e o mandato de presidente já foi mudado duas vezes para acomodar os interesses momentâneos de quem estava no poder. Eu era contra a reeleição porque não acreditava ser possível realizar um segundo mandato melhor que o primeiro. Mas nossa experiência mostrou o contrário. Vamos deixar como está. O sistema político não está falindo por causa do tamanho do mandato de presidente. Está falindo porque as campanhas eleitorais estão ficando cada vez mais caras e os partidos menos firmes em seus princípios e convicções. Consequentemente, com menos unidade, o que dificulta a formação das maiorias parlamentares. O remédio para isso não é reduzir mandato; é instituir o financiamento público de campanhas, criar instrumentos de fidelidade partidária e o voto em lista fechada ou outro mecanismo que diminua as deformações e dê mais eficácia ao voto do eleitor nas eleições proporcionais.
O Brasil ainda tem algum trunfo para diminuir os efeitos da crise financeira mundial?
O maior trunfo do Brasil para enfrentar a crise já foi demonstrado e reconhecido por especialistas do mundo inteiro. Nós arrumamos a economia brasileira, que pegava pneumonia no primeiro espirro dado em qualquer parte do mundo. Passamos a primeira fase da crise praticamente sem problemas no sistema financeiro, especialmente nos maiores bancos, ao contrário dos EUA e da Europa. Tivemos dificuldades pela restrição ao crédito internacional, como em todo o mundo. Mas atuamos prontamente, disponibilizando recursos aos bancos, aos exportadores e ao setor produtivo, por intermédio do Banco Central e dos bancos oficiais. Reduzimos impostos para estimular o consumo responsável e não deixar a roda da economia parar. Tomamos a decisão de manter todos os investimentos do governo federal e até ampliar o PAC. E vamos continuar tomando medidas para estimular os investimentos privados e manter o máximo possível de empregos. Só com o BNDES, o governo vai injetar mais R$ 100 bilhões na economia. Nós decidimos encarar essa crise como uma oportunidade para que o Brasil saia dela mais forte e mais bem posicionado na economia mundial. Estamos consolidando um mercado de massa e temos todas as condições de sair da crise com o dinamismo do nosso mercado interno e a versatilidade do nosso setor exportador, que vem diversificando cada vez mais seus mercados nos últimos anos. O importante é que hoje temos um Estado mais forte, que ao invés de ser um problema a mais na hora da crise, passa a ser uma parte importante da solução. Estamos acompanhando o desenrolar da crise com lupa. Os ministros da área econômica me passam relatos diários sobre os diversos setores e nós tomaremos medidas sempre que for necessário e oportuno. Mas não vamos antecipar nada, porque quando se antecipa uma medida da área econômica corremos o risco de provocar um efeito contrário ao que desejamos, pois todo mundo adia seus negócios e decisões à espera do anúncio.
O senhor se arrepende de ter dito que crise chegaria ao Brasil como uma marolinha?
Naquele momento delicado, em que os mercados estavam em pânico com a quebra de um grande banco nos EUA, eu procurei demonstrar ao país, especialmente para aqueles mais sensíveis às ondas de más notícias, a minha confiança na força da economia brasileira e na nossa capacidade de lidar com as dificuldades. Se eu não confiar, quem mais irá confiar no país? Quando as pessoas se deixam desanimar só com o barulho do trovão, não conseguem agir a tempo para se proteger da chuva. O fato concreto é que a nossa economia está fortalecida e mesmo as previsões mais pessimistas apontam que o Brasil vai crescer bem acima da média da economia mundial neste ano.
O senhor defende abertamente a diminuição dos juros. A tendência de queda, que demorou a chegar, será mantida
Tenho por hábito não comentar as decisões do Banco Central. Quando falo na queda dos juros, estou me referindo mais aos juros que os bancos cobram dos clientes e não aos juros que o governo federal paga aos bancos. A diferença entre o que os bancos pagam de juros nas aplicações financeiras dos seus clientes e o que eles cobram de quem vai pegar um empréstimo está muito alta. É o que os economistas chamam de spread, ou seja, o faturamento que eles têm nas transações de "compra e venda de dinheiro". Estou seguro de que os bancos podem baixar os juros para um patamar mais acessível, que poderia restabelecer o fluxo de crédito na economia. O que posso dizer é que estamos trabalhando dia e noite para que as taxas de juros continuem caindo.
Barack Obama será estrategicamente melhor para o Brasil do que foi George W. Bush?
Não é prudente um presidente ficar comparando governos de outros países. O que posso dizer é que eu me dava muito bem com o Bush, apesar de não concordarmos em muitas coisas. Tenho certeza de que o governo Obama vai tratar o Brasil com o respeito que merecemos. Suas primeiras palavras em relação à América Latina, por exemplo, foram muito positivas. Ele disse que os EUA não devem tentar impor políticas para a região e sim formar parcerias. O que coincide com o que temos praticado em nosso governo.
Há alguma possibilidade de rever o Tratado de Itaipu ou de pagar mais pela energia comprada do Paraguai?
Estamos discutindo com o governo paraguaio formas de estimular o desenvolvimento do Paraguai para que eles possam tirar maior proveito da energia que lhes cabe muito antes do término do acordo feito entre os dois países. Temos possibilidade de ajudar o Paraguai a ter seu PAC, com projetos de infraestrutura que possam atrair investimentos externos em indústrias, que aproveitem a mão-de-obra e a energia de Itaipu. Isso pode ser feito sem necessidade de revisão do tratado. Estamos conversando e tenho certeza de que chegaremos a um entendimento, porque esse é o desejo dos governos dos dois países. (AG)