Brasília - O governo começou a trabalhar nos bastidores para derrubar pela segunda vez a tentativa da oposição de criar uma CPI mista (com deputados e senadores) para investigar repasses da União para entidades ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Interlocutores do Palácio do Planalto e deputados alinhados com o governo têm conversado com líderes dos 14 partidos aliados para tentar impedir que a investigação ganhe força.
O trabalho de convencimento deve ser reforçado na próxima semana. O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) afirmou ontem que vai esperar a oposição protocolar o requerimento para disparar telefonemas cobrando a retirada de assinaturas. Os governistas acreditam que pelo menos 60 deputados da base aliada assinaram o requerimento.
Os oposicionistas devem oficializar o pedido de investigação na terça-feira, véspera da sessão do Congresso, marcada para a leitura do documento.
"Nós vamos avaliar com calma o requerimento para ver o mérito da CPI e saber o que a oposição realmente quer investigar. Agora, vou trabalhar como da outra vez e defender a retirada de assinaturas. Essa CPI não faz sentido. O argumento da oposição de que R$ 115 milhões foram repassados para entidades ligadas ao MST foi derrubado", disse o petista, que coordenou a negociação para o recuo de parlamentares no mês passado.
A estratégia da oposição é dificultar o acesso dos governistas à lista com os deputados que apoiam a CPI, dificultando a retirada de assinaturas. Pelas normas do Congresso, é permitida, a inclusão ou retirada de assinaturas em CPIs até a meia-noite do dia de leitura do requerimento de criação.
No mês passado, a oposição lançou mão de uma manobra e conseguiu fazer a leitura de um requerimento pedindo a investigação dos recursos para entidades ligadas ao MST, mas o governo atuou e conseguiu evitar a CPI com a retirada de 45 assinaturas de deputados aliados.
Na Câmara, DEM e PSDB conseguiram reunir até agora mais de 190 deputados favoráveis à CPI dentro do mínimo necessário de 171. No Senado, a oposição já colheu 35 assinaturas à comissão, oito a mais que o mínimo previsto pelo regimento da Casa. Segundo os oposicionistas, apenas três deputados que recuaram da primeira vez voltaram a assinar o pedido de investigação.
Para que a CPMI seja instalada é preciso ainda que o presidente do Congresso, leia o requerimento em plenário para que os partidos comecem a indicar seus representantes. A comissão vai ser composta com 12 senadores e 12 deputados e o governo deve ter maioria, podendo controlar os principais cargos da comissão, ocupando a presidência e relatoria.
A proposta de CPI ganhou força no Congresso depois da invasão, por integrantes do MST, da fazenda Santo Henrique, na divisa dos municípios de Iaras e Lençóis Paulista, em São Paulo, que resultou na destruição de parte do laranjal da propriedade.