O mais recente pacote de documentos secretos sobre o Brasil divulgado pelo governo dos Estados Unidos comprova a tese que a viúva do ex-presidente João Goulart, Maria Thereza, e seus dois filhos, João Vicente e Denise, defendem na Justiça brasileira, ao reivindicar R$ 3,4 bilhões como compensação por danos morais e materiais: a de que o governo americano deu apoio financeiro, material e político ao golpe militar em 1964.
Informes da CIA - a Agência Central de Inteligência -, telegramas do Departamento de Estado, além de documentos e uma gravação atualmente guardados na Biblioteca Lyndon Johnson, no Texas, contêm informações detalhadas sobre a ativa participação do então embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, numa intensa campanha encoberta de intervenção dos EUA.
Essa campanha culminou com o próprio presidente Johnson dando o sinal verde para o apoio à derrubada de João Goulart, como mostra um áudio de quase seis minutos - da Casa Branca - contendo uma conversa telefônica entre ele e o subsecretário de Estado, George Ball.
Os papéis outrora secretos mostram, por exemplo, a recomendação de Gordon à Casa Branca para "tomar medidas o mais brevemente possível para a entrega clandestina de armas, que não sejam de origem dos EUA, para forças partidárias de Castello Branco em São Paulo". Tais armas, segundo ele, deveriam estar posicionadas "antes do início de qualquer violência".
Tais armas, sugeriu Gordon, deveriam ser desembarcadas no litoral sul paulista: "O melhor meio para a entrega agora nos parece ser um submarino sem inscrições, que seria descarregado à noite em locais isolados da costa no Estado de São Paulo, ao sul de Santos, provavelmente perto de Iguape ou Cananéia".
'A revolução será sangrenta'
Por três vezes, na semana que antecedeu ao golpe militar no Brasil, o embaixador Lincoln Gordon disse à Casa Branca que a situação no país beirava a guerra civil, e que o presidente Lyndon Johnson deveria agir com rapidez para salvar o Brasil do comunismo.
Num dos telegramas, Gordon disse que seria possível tanto uma renúncia de João Goulart, sob "uma sólida pressão da oposição militar", quanto uma fuga dele do país "ou a liderança de um movimento revolucionário populista".
Diante disso, Gordon acrescentou: "As possibilidades incluem claramente guerra civil, com alguma divisão horizontal ou vertical dentro das Forças Armadas, agravadas pela generalizada posse de armas em mãos de civis em ambos os lados".
A CIA também colaborou, e errou, com uma previsão catastrófica. Ela foi enviada num curto telegrama em 30 de março, anunciando que a revolução seria iniciada ainda naquela semana: "A revolução não será resolvida rapidamente, e será sangrenta".
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