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General Médici: acordo articulado na década de 1970 | Arquivo
General Médici: acordo articulado na década de 1970| Foto: Arquivo

Segurança

Documentos mostram ligação entre guerrilheiros argentinos e do Brasil

Além de negociações para cessão de armamentos ao governo chileno, documentos produzidos pelo Estado-Maior das Forças Armadas mostram a preocupação da ditadura brasileira com ligações entre grupos de guerrilha locais com os vizinhos latino-americanos. Em documento reservado de novembro de 1974, o ministro-chefe do Emfa, Antônio Jorge Corrêa, discorre sobre a "suspeita de entendimentos entre organizações terroristas argentinas e brasileiras".

Ofício endereçado ao comandante da Escola Superior de Guerra, Walter de Menezes Paes, dá instruções sobre "providências de segurança" a serem tomadas. "Esta chefia teve conhecimento através de órgãos de informação que há suspeitas de entendimento entre organizações terroristas argentinas e brasileiras, visando a atentados contra elementos indicados pelas ditas organizações", diz o ofício.

O ministro refere-se então a uma viagem de intercâmbio entre os dois governos militares e pede precauções devido às suspeitas de cooperação entre guerrilhas dos dois países: "Devendo a ESG coordenar a visita da Escola de Defesa Nacional da República da Argentina, na segunda quinzena de novembro próximo, alerto V.Exa, para as providências de segurança que se tornam necessárias. Em face do acima exposto, recomendo V.Exa. que realize as necessárias ligações com o Exmo. Sr. Comandante do I Exército", aponta Corrêa.

Documentos secretos produzidos pelo extinto Estado-Maior das Forças Armadas (Emfa) durante a ditadura militar revelam que o governo brasileiro forneceu armamentos militares ao Chile para a repressão interna no regime do general Augusto Pinochet (1973-1990). Um acordo articulado no governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e executado durante os primeiros anos do governo de Ernesto Geisel (1974-1979) repassou à ditadura chilena milhares de fuzis, espingardas, cartuchos de munição, carregadores e outros equipamentos bélicos, como "material destinado à manutenção da ordem interna".

Documentos a que a reportagem teve acesso mostram que o EMFA determinou, em 17 de janeiro de 1975, que o armamento a ser cedido ao Chile tivesse as Armas da República apagadas para que não fosse identificada a origem brasileira e oficial. Nessa data, o então vice-chefe do Estado-Maior, general Carlos de Meira Mattos, solicita ao chefe de gabinete do Ministério do Exército "providências no sentido de que a fábrica de Itajubá proceda ao esmerilhamento nas estampagens dos emblemas com as Armas da República dos fuzis tipo FAL e FAP que serão cedidos", diz ofício secreto assinado por Meira Mattos.

O general pede que o mesmo procedimento seja feito no armamento a ser fornecido pela Marinha: "Conforme relação constante do Aviso da referência, o Ministério da Marinha também cederá idêntico armamento ao governo Chileno. Assim sendo, consultamos aquele órgão da possibilidade de efetuar idêntica operação pela Marinha, ou em caso negativo, se deseja que o trabalho seja feito em Itajubá".

Os documentos integram uma série de 37 volumes de caráter sigiloso e 52 volumes de boletins reservados expedidos pelo extinto Estado-Maior da Forças Armadas, sucedido pelo ministério da Defesa em 1999. O ministro da pasta, Celso Amorim, informou à Comissão da Verdade a existência dos documentos e solicitou ao Ministério da Justiça a criação de um grupo de trabalho para análise e tratamento das informações.

O então presidente Geisel, que encarregou o Estado-Maior da coordenação das medidas para equipar o Exército do Chile para a repressão interna, também autorizou abertura de crédito (US$ 40 milhões com prazo de 15 anos) ao governo chileno para a compra de material bélico e equipamento militar de produção nacional.

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