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No dia em que os trabalhadores rurais sem-terra realizam manifestações em todo o país para lembrar os 11 anos do massacre de Eldorado de Carajás , o governo do Pará editou uma série de medidas para beneficiar os familiares das vítimas e os sobreviventes do confronto . Com o decreto, assinado pela governadora Ana Júlia Carepa, o Executivo se compromete a apresentar projetos de lei prevendo a concessão de pensão para cada um dos envolvidos no massacre.

Os trabalhadores rurais deram continuidade à série de ocupações e protestos da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária, o chamado "Abril vermelho". Como parte das movimentações, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) protocolou no Palácio do Planalto, o pedido de audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir o processo de reforma agrária no país. Segundo a coordenadora nacional do MST, Marina dos Santos, há um ano Lula promete receber o movimento. Na carta, é apresentada uma pauta com dez itens, entre eles a aceleração das desapropriações para assentamento de 140 mil famílias acampadas. Na semana passada, Lula recebeu a direção da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

O MST divulgou também um balanço das ações realizadas desde o dia 8. De acordo com os números do movimento ,foram realizadas 33 mobilizações, entre ocupações, marchas, acampamentos e atos. Segundo o levantamento, o MST envolveu em suas ações, sozinho ou com outras entidades, quase 10 mil famílias, em 15 estados.

O MST diz que um de seus objetivos é pressionar os órgãos públicos envolvidos na questão agrária a realizar um mutirão para assentar "em poucos meses" as 140 mil famílias acampadas no país. Em outra nota, o MST critica o governo federal, que, segundo os sem-terra, não tem dado prioridade à reforma agrária, preferindo investir no modelo de agronegócio, "que se baseia na grande propriedade 'modernizada', que usa elevadas quantidades de agrotóxicos, gera poucos empregos e produz somente para exportação", segundo o MST.

Pernambuco tem maior número de ocupações

Cerca de três mil integrantes do MST ocuparam, na manhã desta terça-feira, 17 praças de pedágio, no Paraná. Os manifestantes assumiram o controle das cabines de segurança e de cobrança e abriram as cancelas. Os motoristas passam sem pagar pedágio. A associação das concessionárias informou que vai recorrer à Justiça para retomar o controle das praças.

O MST exige o assentamento das oito mil famílias acampadas no estado e denuncia os efeitos da cobrança nas estradas para os assentados, como o encarecimento dos produtos agrícolas, que prejudicam os produtores no campo e os consumidores nas cidades.

Em Pernambuco, mais de 200 integrantes do MST ocuparam o Engenho Cachoeiro Dantas, no município de Água Preta - a 130 quilômetros de Recife. Os manifestantes cortaram as cercas e instalaram as barracas. Em outra ação, cerca de 400 famílias atearam fogo aos canaviais que pertencem à Usina Vitória. Segundo o coordenador regional do MST, no lugar da cana serão plantados milho e feijão, simbolizando o início da produção de alimentos para os sem-terra. Ele explica que a Jornada de Luta pela Reforma Agrária está questionando o agronegócio e a implantação de monoculturas, como eucalitpo e cana.

Na madrugada desta terça-feira, cerca de 200 famílias também ocuparam o Engenho União, em Glória de Goitá, no agreste pernambucano. Com o acampamento montado, os sem-terra pedem a desapropriação de terras e negociação direta com Maria de Oliveira, superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Pernambuco.

Além dessas, famílias ligadas ao MST também ocuparam o engenho Serro Azul Velho, em Palmares, na Mata Sul, e a fazenda Caldeirão, que fica em Custódia, no Sertão.

No Ceará, integrantes do MST ocuparam seis fazendas no interior do estado. Um grupo de 250 sem-terra também interditaram pela manhã a rodovia BR-020, que liga Fortaleza ao município de Tauá, mas a pista foi liberada no início da tarde. As ocupações ocorreram nos municípios de Pracuru, Jaguaretama, Icó, Quixeramobim, na região do Baturité e em Antonina do Norte.

Trabalhadores rurais ocupam sede do Incra em Brasília, em mais uma manifestação do ''Abril Vermelho''. Eles cobram agilidade na reforma agrária e lembram os 11 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás - Agência Brasil Em Brasília, centenas de sem terra, que desocuparam nesta segunda-feira a sede do Incra , continuam protestando no local. Os manifestantes estão na garagem do prédio.

No Rio, cerca de 100 integrantes do MST fecharam por uma hora as pistas da Rodovia Presidente Dutra, que liga o estado a São Paulo. Os manifestantes queimaram pneus e espalharam cruzes na estrada para lembrar a morte dos sem-terra de Carajás. Os manifestantes, que ocupam as fazendas as Cesbra e Aymorés, em Piraí, também reclamam do Incra, que até agora não promoveu a divisão dos lotes onde os trabalhadores foram assentados.

- Trancamos a Dutra para relembrar a data e cobrar reforma agrária. Conversamos com os motoristas para conscientizar sobre essa questão - contou Luciana Miranda, representante do MST.

Após liberarem a rodovia federal, os agricultores seguiram para o acampamento Josué de Castro, na BR-101, em Campos.

Simultaneamente, cerca de 300 trabalhadores rurais bloquearam o tráfego de veículos em duas pistas por quase duas horas na BR-101. Os sem terra permanecem na sede da fazenda Desejo e Azurara, de 550 hectares, está em processo de desapropriação desde 2001. Quarenta famílias ocuparam a área.

Na Bahia, cerca de 600 trabalhadores rurais ligados a vários movimentos de luta pela terra e contra a transposição das águas do Rio São Francisco estão ocupando o prédio da II Superintendência Regional da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, em Bom Jesus da Lapa. No prédio, também funciona o escritório regional do Ibama.

No Rio Grande do Sul, cerca de 800 integrantes do MST - entre eles, 150 crianças - percorrem 14 quilômetros entre dois acampamentos do movimento, em Porto Alegre. Esses pontos ficam ao longo da Fazenda Coqueiros, ocupada pelo MST na semana passada, pela oitava vez em três anos. Não há reforço policial. Apenas um carro da polícia acompanha a movimentação.

MST ocupa área do Exército em Santa Catarina

Em Santa Catarina, cerca de 600 militantes do MST invadiram no domingo uma área de 10.500 hectares do Exército em Três Barras e Papanduva, no norte do estado. Os sem-terra montaram barracas na área, onde o Exército faz operações militares e foram retirados do local por soldados fortemente armados. Os militares ameaçaram passar por cima dos manifestantes com blindados.

Para evitar um conflito, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), líder do PT no Senado, ligou para o ministro da Defesa, Waldir Pires, pedindo que as tropas não avançassem. O MST recuou e deixou a área à tarde.

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