O Conselho Nacional de Assistência Social aprovou ontem, em Brasília, a Norma Operacional Básica (NOB) do Sistema Único de Assistência Social (Suas), uma espécie de "SUS social". O documento, de cerca de 70 páginas, estabelece as exigências para que os municípios façam parte do sistema, e determina os novos critérios para o repasse de verbas da União aos municípios. Segundo a diretora de Proteção Social da Fundação de Ação Social de Curitiba, Ana Maria Macedo, a expectativa é de que a verba federal destinada à capital aumente com a adesão ao Suas.

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No momento, nenhum município aderiu formalmente ao Suas, mesmo porque as regras para isso acabaram de ser definidas. Entretanto, algumas cidades já trabalham na lógica do sistema, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Curitiba, por estar classificada como metrópole, tem mais exigências. "Estamos no caminho para atender todos os critérios", explica Ana Maria. Um deles é a presença de Centros de Referência de Assistência Social (Cras) – a cidade tem cinco deles, chamados Centros de Referência da Família. O governo espera que estes locais funcionem como centrais de atendimento dos programas sociais.

Entre as novidades do Suas está a classificação das iniciativas como Proteção Social Básica, Proteção Social Especial de Média Complexidade e Proteção Social Especial de Alta Complexidade. A diferença entre os três tipos, explica Ana Maria, está na violação de direitos: enquanto a proteção básica trata de situações onde ainda se mantém o vínculo entre o assistido e sua família, situações como a exploração sexual de crianças e adolescentes, alvo do programa Sentinela, ou o trabalho infantil, constituem situações de alta e média complexidade, respectivamente.

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A norma também estabelece o cálculo de critérios de vulnerabilidade populacional: variáveis como a proporção de crianças e adolescentes até 15 anos trabalhando, qualificação da mão de obra, evasão escolar, quantidade de famílias com renda inferior a um salário mínimo e número de mães adolescentes serão levadas em conta para determinar os muncípios com um cenário social mais grave. "Os recursos continuarão a ser enviados pela União; o que muda são os critérios para a remessa de dinheiro. Acredito que agora os recursos serão melhor distribuídos", afirma Ana Maria. Ela conta que, em uma das reuniões para debater a NOB, ouviu que os municípios teriam um ganho de cerca de 10% nos repasses de assistência social depois de aderir ao Suas. "No entanto, só isso não basta. Muitas vezes a verba atrasa, e as entidades precisam do dinheiro", lamenta.

Para o advogado Fernando Mânica, especialista em políticas públicas, o Suas vai aperfeiçoar a assistência social. "Ele trabalha com o princípio da subsidiariedade: municípios e entidades agem, e estados e União dão apoio. A esfera maior só intervêm quando a esfera menor não dá conta", explica. Ao mesmo tempo, o princípio da cooperação determina que a instância local tenha suas deficiências supridas pela ajuda regional.

Na próxima semana, Ana Maria vai a Brasília e pretende tirar algumas dúvidas sobre a NOB e o Suas. "Ainda não sabemos bem como funcionarão algumas coisas, como os pisos de proteção social", diz. Mas a diretora do FAS ressalta que tem esperança de que o Suas melhore o cenário da assistência social no país: "Acho que agora o governo federal está encarando o setor com mais seriedade." Mânica compartilha do otimismo. "Precisamos de tempo para ver como essa disciplina será implantada, mas acredito que Curitiba só tem a ganhar", diz.