Brasília (AE) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre o sério risco de se tornar o chefe de governo brasileiro com a pior média de investimentos desde as administrações militares. Mesmo que feche 2005 acelerando o ritmo, o petista entrará no último ano de mandato com uma média de R$ 11,6 bilhões de investimentos por ano. É menos do que a média da pior entre as administrações dos últimos 25 anos, a do general João Batista Figueiredo (R$ 12,5 bilhões), e fica bem abaixo do resultado de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (R$ 17,5 bilhões).

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A comparação foi feita a partir de números oficiais divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional, que computa os investimentos realizados com verbas do orçamento da União entre 1980 e 2005 e atualiza os valores pelo IGP-DI. As despesas classificadas como investimento são apenas aquelas relativas a obras e compras de equipamentos, num critério parecido com o utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para calcular a taxa de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Tais despesas são fundamentais para criar condições para o crescimento econômico, como, por exemplo, com a construção e melhoria de estradas e portos.

O baixo desempenho do governo Lula é afetado pelos dois primeiros anos de mandato, quando conseguiu realizar apenas R$ 9,5 bilhões de investimentos em média. Foi um período em que o petista agiu com enorme cautela para dissipar o fantasma de uma ruptura na política econômica. Agora, preocupado em reverter a tendência de baixo investimento, que pode se transformar em números negativos para a campanha da reeleição, o presidente tem pedido para seus ministros maior agilidade na execução orçamentária. Contudo, são remotas as possibilidades de que o maior ritmo de gasto neste final de ano e no primeiro semestre do próximo consiga colocar Lula numa melhor posição no ranking dos últimos cinco presidentes da República.

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O valor liberado para investimentos em 2005 já chega a R$ 15,8 bilhões, mas só 31,4% foram efetivamente liquidados até novembro. A liquidação corresponde ao momento em que os técnicos conferem a conclusão de etapa do projeto e autorizam seu pagamento. Para 2006, o governo projeta outros R$ 14,3 bilhões na proposta orçamentária que enviou ao Congresso. Um traço característico de quase todos os governos analisados é que o terceiro ano de mandato – último (ou penúltimo) antes das eleições – é, em geral, o de melhor desempenho. Foi assim no governo José Sarney (1985 – 1989), que chegou a registrar um investimento equivalente a R$ 24,4 bilhões em 1987, o maior de toda a série.

Para os oposicionistas, a estratégia de Lula não deixa de ter conotação eleitoral: ele priorizou nos dois primeiros anos de mandato a organização do Bolsa-Família, que lhe propicia ampla rede de apoio nos rincões mais pobres do país, e agora trabalha por realizações de maior envergadura. Por isso, fica tão perturbado com a possibilidade de o orçamento de 2006 não ser votado até dia 31 de dezembro. "Existe um lado bom e outro ruim nesse episódio. O bom é que o presidente dá sinal de que não está usando a caneta para fazer populismo eleitoral. O ruim é que a falta de investimentos enfraquece o crescimento", tem dito um importante ministro do Palácio do Planalto.