Destoando de parte de seus colegas de partido, o candidato à Presidência da República do PSDB, José Serra, enfrentou na noite de sábado (19) o debate sobre as privatizações no Brasil e afirmou que em seu governo haveria restrições para o uso de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a fusão entre empresas.
O tema foi evitado, por exemplo, pelo então candidato tucano a presidente em 2006, Geraldo Alckmin, que foi derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Serra, entretanto, ironizou o assunto, dizendo que governo Lula inovou na questão das privatizações, pois dá recursos para empreendimentos que serão de propriedade privada, como a ferrovia Transnordestina e usinas hidrelétricas.
"Uma das grandes farsas do Brasil de toda a discussão é a questão de privatização. Quando chega no governo, não só não volta para atrás, como dá dinheiro para elas", afirmou Serra durante o programa Roda Viva, da TV Cultura.
"Chegou a se dar dinheiro subsidiado, porque o governo emite dívida pública, pega o dinheiro da dívida e empresta por um juro menor que está pagando pela dívida pública para uma empresa comprar a outra... é um modelo curioso de privatização do dinheiro público", acrescentou.
A entrevista foi concedida na noite de sábado, mas só será transmitida na noite de segunda-feira. Questionado se o BNDES continuaria incentivando a formação de grandes empresas nacionais, Serra ponderou.
"Se for para formar capital novo num setor que for fundamental, eu não sou contra... não sou contra uma empresa comprar a outra, mas você vai dar dinheiro público subsidiado? Todos os contribuintes do Brasil vão pagar para uma empresa comprar outra? Não tem sentido."
O BNDES tem tido participação, por exemplo, na internacionalização de empresas do setor de carne.
O tucano foi além. Defendeu a concessão de aeroportos. No entanto, demonstrou irritação quando um jornalista o questionou sobre o modelo de concessões de estradas adotado por São Paulo, Estado que governou até o início de abril, e o alto preço dos pedágios nessas rodovias.
O candidato argumentou que as estradas paulistas são consideradas as melhores do Brasil, complementando que a crítica é "trololó" petista repetido pela imprensa.
Macroeconomia
Indagado sobre o que mudaria na atuação do Banco Central, Serra voltou a criticar a demora da autoridade monetária para baixar os juros durante a crise financeira global. Acrescentou que, em seu governo, o BC ia "trabalhar direito" e "errar menos".
Serra alertou para os riscos referentes ao déficit de conta corrente e criticou a entrada de capital especulativo no país. "Se a economia tiver crescendo sustentadamente, é a melhor maneira de entrar capital produtivo. O que entra no Brasil hoje é dinheiro para especular."
Ele ainda defendeu o corte dos gastos públicos e que o governo federal também passe a se enquadrar totalmente na Lei de Responsabilidade Fiscal. Declarou ser favorável a tornar permanente a Zona Franca de Manaus.
Vice e temas polêmicos
Serra afirmou que ainda não possui um nome para ocupar a vaga de vice em sua chapa, e negou que a demora em anunciá-lo esteja gerando reclamações entre aliados. "O vice vai ser anunciado no fim do mês", disse.
Segundo o tucano, sua gestão não teria problemas de governabilidade em decorrência da sua resistência de distribuir cargos no Executivo para aliados. "Eu nunca pegaria o governo para ficar entregando agências de regulação a partidos", destacou, acrescentando que a prática gera corrupção e incompetência na administração pública.
O candidato, que prometeu expandir os programas sociais e financiar o ensino técnico de 1 milhão de jovens, foi questionado sobre alguns assuntos polêmicos. Perguntado se era favorável à regulamentação do aborto, disse que não mexeria na atual lei que impede a interrupção da gravidez. Disse também que nunca fumou maconha e é contrário a sua descriminalização. Defendeu, entretanto, a união civil entre homossexuais.
Serra reafirmou que sua principal adversária, Dilma Rousseff (PT), seria responsável pela suposta tentativa de produção de dossiês contra pessoas ligadas a ele. Acrescentou ainda que esses documentos têm sempre acusações "requentadas", "estúpidas" e mentirosas.
Diplomacia
O tucano prometeu reforçar o policiamento das fronteiras a fim de combater o tráfico de armas e drogas. Voltou a dizer que não confia no presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e que "de jeito nenhum" intermediaria um acordo entre ele e a Agência Internacional de Energia Atômica sobre o programa nuclear da República Islâmica.
Assegurou, entretanto, que seu governo manteria relações normais com a Venezuela de Hugo Chávez.
"Acho que ficar agradando ditadores ou sendo permissivos em relação a violações dos direitos humanos é uma coisa que eu não faria. Agora, relações econômicas normais e institucionais tudo bem", acrescentou.
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