Brasília, (AE) – Aliados e adversários do Planalto debitam na conta do governo a derrota do "sim" no referendo do desarmamento. Até o petista Paulo Delgado (MG) avalia que a crise política contaminou a decisão do eleitor. "Não há como negar que a vitória do "não" é o fracasso do sistema de segurança do país. Tanto que o governo se omitiu no referendo", avalia Delgado. Ele acusa os governos brasileiros de terem deixado o povo sozinho, "matando e morrendo", porque nunca tiveram opinião sobre segurança pública. E admite que a administração petista lavou as mãos na consulta sobre a proibição da venda de armas.

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Arthur Virgílio Neto (AM), líder do PSDB no Senado, votou "sim" mas afirma não ter dúvidas de que ambos os votos expressam críticas ao governo. "Esses dois votos, somados, mostram que o Brasil está à mercê do crime." Ele entende que o voto do "sim" foi o voto da utopia, para criar uma cultura de paz e cobrar do Estado que faça a sua parte para proteger o cidadão, mas que um e outro sabem que o governo não os protege.

Para o líder da oposição na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), o resultado exprime a revolta da população com o governo. "Não há dúvida de que mais parece a revolta do povo da Rússia derrubando estátua de Stalin. O povo revoltou-se pelo fato de ter sido chamado a responder a uma indagação que não era caso de referendo", opina Aleluia.

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Pefelistas e tucanos acusam o governo de ter tentado tirar dividendos políticos do referendo. "No fundo, a opinião pública percebeu a manobra", diz o ex-líder tucano Custódio de Mattos (MG), convencido de que o governo quis fazer uso eleitoral do desarmamento para encobrir sua paralisia e a ausência de uma política eficaz de segurança pública. "Não acho que as pessoas mudaram seu ponto de vista, mas que governo foi mal intencionado e o tiro saiu pela culatra."

"Foi o governo que inverteu a pergunta do referendo porque achou que podia tirar proveito e dizer que o "sim" era ele", acusa Aleluia. O líder entende que a questão central é a violência. "A infância desvalida e desguarnecida é que precisa ser olhada. O que falta é programa social", diz o pefelista.

Paulo Delgado pondera que, em período de crise, negar é sempre mais fácil que afirmar, sobretudo quando a consulta popular que facilita isso, colocando a afirmação em segundo lugar. "Mas o governo está se especializando em usar mal conquistas da democracia, como as consultas populares", adverte o petista. A seu ver, o referendo fez uma pergunta errada, na hora errada, de forma errada, do mesma modo como ocorreu na consulta do parlamentarismo. E ele não poupa o Tribunal Superior Eleitoral em suas críticas. "O TSE também contribuiu para a confusão, errando a lógica da consulta."