Brasília e Paris - Após a divulgação de que o relatório técnico do Comando da Aeronáutica recomendava a compra do caça sueco Gripen NG, o governo decidiu mudar o teor do documento. O novo relatório final sobre a compra de 36 aviões de guerra pelo Brasil (um negócio estimado em R$ 10 bilhões) indica que as aeronaves Rafale, da companhia francesa Dassault, e o F-18 Super Hornet, da americana Boeing, contam com características técnicas e militares superiores aos Gripen, da sueca Saab.
O documento foi entregue ontem ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, e a um colaborador direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A assessoria de imprensa da Aeronáutica não confirmou essas entregas, mas admitiu que o documento foi concluído e que está mantido sob sigilo.
O conteúdo do novo relatório contrasta com a versão anterior, na qual a Aeronáutica hierarquizou os três concorrentes e apontou o Gripen NG no topo da lista. Ao caça Rafale, a aposta preferencial do Palácio do Planalto nessa concorrência, a Aeronáutica reservara o terceiro e último lugar, em função especialmente de seu custo mais elevado. O vazamento dessa versão à Folha de S. Paulo no início da semana irritou a Presidência, que avaliou o ato como uma pressão adicional da Força Aérea para fazer valer seus critérios na decisão final. Nos bastidores, o Palácio do Planalto qualificou o vazamento como nocivo à "segurança nacional".
A nova versão não traz uma hierarquia dos concorrentes, como a anterior. Mas expõe as vantagens dos caças Rafale e F18 Super Horner, como os fatos de serem aviões já testados e com duas turbinas, enquanto os Gripen ainda são um projeto e contam com apenas uma turbina.
Parlamentares que acompanham essa concorrência para a renovação da frota da Força Aérea consideram que o documento final apenas alivia a saia-justa que a Aeronáutica costurou para a Presidência. Mesmo que o relatório viesse a apontar claramente o Rafale como a escolha perfeita, as sucessivas tentativas da Aeronáutica de constranger o governo a recuar em sua preferência foram registradas pelo Palácio do Planalto e devem resultar em punição.
Em outubro, a cúpula da Aeronáutica apresentou a deputados da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional as razões pelas quais considerava os caças Gripen NG mais apropriados. O governo, porém, já demonstrou que deve comprar os aviões da França.
"O barato às vezes sai caro", diz Amorim
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reafirmou ontem, em Paris (França), que a decisão sobre o caça vencedor da concorrência para renovar a frota nacional será política, ainda que leve em consideração aspectos técnicos. E, em referência indireta ao avião sueco Gripen NG ainda que sem citar nomes da empresas , o chanceler afirmou: "O barato às vezes sai caro". A declaração foi um contraponto indireto à opinião da Aeronáutica, cujo relatório avaliou que um dos fatores que deveriam levar o Gripen NG à vitória na concorrência seria o preço. A Saab, fabricante do Gripen, promete fornecer dois jatos pelo preço de um Rafale francês, produzido pela empresa Dassault. O custo de um Gripen é estimado em US$ 70 milhões e o de um Rafale, de US$ 140 milhões. Já o F-18 deve custar US$ 55 milhões a unidade.
A posição de Amorim foi mais um indicativo de que o Brasil tende a adquirir o caça francês, que ficou em terceiro lugar na primeira avaliação técnica da FAB, atrás do Gripen e do F-18 Super Hornet (dos EUA).
Durante sua agenda na capital francesa, Amorim participou do seminário "Novo Mundo, Novo Capitalismo", promovido pelo governo da França. Já o presidente francês, na frente de Celso Amorim, retribuiu a posição brasileira a respeito da compra dos caças fazendo afagos ao Brasil. Sarkozy defendeu a reforma urgente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, sugerindo que o Brasil deveria ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU antigo sonho da diplomacia do governo Lula.
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