Deputado Traiano garante que mudanças virão
O deputado Ademar Traiano (PSDB), que será o líder do governo de Beto Richa (PSDB) na Assembleia Legislativa, diz que o "jeito novo" de governar anunciado por Beto logo será plenamente percebido. "As mudanças de práticas políticas vão acontecer", afirma ele.
A principal novidade, segundo Traiano, decorrerá do uso dos contratos de gestão. "Não vai haver um xerifão. Os secretários terão autonomia, mas por outro lado precisarão cumprir as metas. O pulso forte do governador será para cobrar que os índices sejam alcançados." Para Traiano, Richa "não titubeará" se precisar cobrar resultados mesmo dos parentes ou de secretários indicados por partidos políticos de cujo apoio ele precisa. "Se for preciso, a posição que a pessoa ocupa será revista", diz.
Traiano defende a forma como o secretariado foi montado. Para ele, embora o processo tenha atendido a interesses de grupos políticos, o critério essencial foi a da qualificação para o cargo a ser ocupado. Isso inclusive nos casos em que parentes do governador foram nomeados. "A Fernanda Richa hoje é uma referência na área de atuação dela", diz o parlamentar. Traiano também diz que, como a legislação permite a nomeação de parentes para o cargo de secretário, isso não pode ser enquadrado como nepotismo.
Já sobre a participação de pessoas com problemas legais no governo, o deputado diz que "não vê dificuldades". "É natural acontecer erro na vida de cada um. Se a pessoa se redimir, não vejo problemas. Até porque hoje é muito difícil achar alguém que não responda a um processo", afirma.
Novidades seriam ideológicas, afirmam analistas
O que Beto Richa poderá trazer de novidade ao governo, segundo os cientistas políticos ouvidos pela Gazeta, deve aparecer a partir de agora, depois de montada a equipe: a agenda do novo governador estabeleceria metas que estavam fora da pauta nos últimos anos; e, principalmente, o estilo "gerencial" poderá começar a ser visível, com a cobrança de metas dos secretários.
"O que tem de novidade em relação ao governo anterior, do Requião, é principalmente a ideologia. O Beto já mostrou que vai impor a agenda tucana com bastante força", afirma o professor Luiz Domingos Costa, do Grupo Uninter. A ênfase especial nesse sentido deve ser na austeridade fiscal e no corte de gastos. "A redução de custeio dá bem o tom do que deve ocorrer no mandato", afirma.
Metas
O estilo "gerencial" também faria parte dessa mudança. Seria uma forma de fazer prevalecer um modelo de menos gastos e de mais eficiência, tentando evitar desperdícios. Os contratos de gestão, em que os integrantes do governo se comprometem a atingir certas metas em suas áreas, inclusive reduzindo custeio, são um símbolo importante neste ponto.
Mas, para Carlos Luiz Strapazzon, há um limite para o que o governador pode fazer nesse ponto. "Ficou claro que ele vai cobrar metas. Mas o que ele vai fazer com os cargos de indicação política caso as metas não sejam alcançadas? Ele vai demitir o Durval Amaral [secretário-chefe da Casa Civil]? Ou o [secretário do Trabalaho, Luiz Cláudio] Romanelli?"
Durante toda a campanha eleitoral do ano passado, o então candidato Beto Richa (PSDB) afirmou que implantaria no Paraná, caso vencesse a eleição, um "novo jeito de governar". Foi uma espécie de bordão repetido em todas as oportunidades. O modelo seria construído com base no diálogo, na eficiência e também em novas práticas políticas, que evitassem os vícios de governos passados.
Passada a fase de formação do secretariado, iniciada a convocação do segundo escalão e dado o pontapé inicial do mandato, a Gazeta do Povo perguntou a cientistas políticos se o novo governador realmente inovou até o momento ou se está fazendo mais do mesmo do que já vinha sendo visto em outras administrações. A resposta dos especialistas é que, pelo que se pode ver até aqui, o governo de Beto traz algumas novidades, mas deve ser mais parecido com os anteriores do que a propaganda fazia pensar.
Entre os métodos que foram mantidos pelo novo governo os cientistas políticos destacam a maneira como foram recrutados os integrantes do primeiro escalão. Práticas como o nepotismo e a cooptação de partidos políticos por meio da distribuição de cargos ocorreram como em todos os mandatos anteriores, sem nem mesmo haver diminuição.
"O jeito novo de governar, seja o que for, não parece que vá mudar o tipo de relação entre o Executivo e os partidos políticos", afirma Fabrício Tomio, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Os secretários foram escolhidos para montar um governo de coalizão que garanta ampla base para o governador na Assembleia, mesmo que às vezes passando por cima dos partidos", diz, lembrando que Richa deu ao PMDB, antigo rival de campanha, a Secretaria do Trabalho, esperando conseguir apoio da bancada a seu governo.
Nomeações
Para Luiz Domingos da Costa, professor do Grupo Educacional Uninter, do ponto de vista da forma de operação do sistema político, o governo que se inicia não difere em nada dos mandatos de Roberto Requião e de Jaime Lerner. "É a distribuição de cargos em busca da conquista da maioria", diz. Segundo o professor, montar uma grande coalizão é necessário para garantir previsibilidade na Assembleia. "O que se critica é a maneira fisiológica como isso é feito, sem base em ideias", diz.
A nomeação de parentes do governador para cargos de primeiro escalão também mostra a permanência de hábitos antigos no governo. "Até é compreensível a escolha de secretários por critérios políticos, para atrair partidos. Tem sua lógica. Já a escolha de parentes para ocupar secretarias é mais difícil de defender", afirma Carlos Luiz Strapazzon, professor de Direito Constitucional e Ciência Política. Beto nomeou a esposa, Fernanda, para a Secretaria da Família e o irmão José Richa Filho para a pasta da Infraestrutura e Logística.
Os cientistas políticos também criticam a indicação de pessoas acusadas de faltas graves para postos no governo. É o caso de Ezequias Moreira, pivô do caso da "sogra fantasma", que será responsável por uma diretoria da Sanepar. Assessor de Beto, Ezequias manteve a sogra recebendo salário da Assembleia mesmo sem trabalhar lá. Ele devolveu o dinheiro aos cofres públicos. O filho do deputado Nelson Justus, presidente da Assembleia, Nelson Cordeiro Justus, investigado por improbidade administrativa pelo Ministério Público, também ganhou um cargo na Companhia da Habitação do Paraná (Cohapar).
Para Strapazzon, todas essas nomeações são incoerentes com o estilo de governo que Richa prometia, baseado na eficiência mais do que em benefícios políticos para grupos ligados ao governo. "O governador sabe que o estilo mais próximo da iniciativa privada que ele prometeu não pode se estender a todo o governo, já que é preciso fazer concessões políticas. O que se percebe é que ele escolheu áreas que considera centrais para nomear técnicos, esperando resultados que sustentem seu governo. Nos outros casos, atendeu aos interesses dos políticos", diz.
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