Com o avanço da campanha de Eduardo Cunha (PMDB) sobre partidos da base e da oposição, o governo deixou de lado o discurso de não interferência na disputa pela presidência da Câmara e cinco ministros participaram nesta quarta-feira (28) de um almoço para fazer uma grande ofensiva de apoio a candidatura do petista Arlindo Chinaglia (SP). Estavam presentes Ricardo Berzoini (Comunicações), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Gilberto Occhi (Integração Nacional), Gilberto Kassab (Cidades) e Antônio Carlos Rodrigues (Transportes). Também participaram do almoço líderes partidários e presidentes nacionais de partidos da base aliada.
No encontro, que reuniu representantes de oito partidos, foi tomada a decisão de formação de um amplo bloco partidário de legendas da base aliada para a disputa das vagas na Mesa Diretora e também em comissões.A candidatura de Chinaglia já tem o apoio do PSD, PROS e PC do B, o PDT anuncia o apoio na sexta-feira e o partido busca para compor o bloco o PR, o PP e o PRB, que totalizaria 231 deputados.
Segundo o ministro Pepe Vargas este bloco está sendo discutido "de forma transparente, à luz do dia" e tem como objetivo construir um caminho para a consolidação da base aliada da presidente Dilma Rousseff. Pepe Vargas negou que o governo esteja interferindo na disputa da Câmara e disse que seria hipocrisia os ministros do PT não apoiarem o candidato do seu partido.
"O governo não está interferindo na disputa. O vice-presidente Michel Temer foi na reunião do candidato do PMDB, os ministros do PMDB foram. Isso é normal, é da democracia. Viemos aqui para fazer uma reflexão e queremos estabilidade política e o melhor para o Parlamento. Se o governo quisesse interferir, estava montando o segundo e o terceiro escalões. Mas o governo não vai usar instrumentos para desequilibrar o jogo em favor de um ou outro candidato", disse o articulador político do governo, acrescentando: "O governo não vai interferir, mas outra coisa são as movimentações dos ministros. Para além de serem ministros, são militantes partidários. Seria hipocrisia pensar que os ministros do PMDB e do PT não apoiariam o candidato do seu partido."
O PT e o governo pressionam especialmente do PR, o PP e o PRB para fechar formalmente o apoio ao bloco. Pelo PP, participaram do almoço o ministro Gilberto Occhi e o ex-ministro e deputado Aguinaldo Ribeiro (PB). Pelo PR, o ministro Antônio Carlos Rodrigues, o futuro líder da bancada, Maurício Quintella Lessa (AL) e o presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM). Pelo PRB, o deputado César Halum (TO) e o dirigentes da legenda, entre eles o vice-presidente Eduardo Lopes. Todos ficaram de levar às bancadas de deputados a proposta de integrar esse bloco e avisaram que o apoio ao bloco e a Chinaglia será definido na sexta-feira ou no sábado. "Estamos aqui para trabalhar pela presidenta Dilma, pelo governo e pela governabilidade", resumiu o ministro Occhi.
PP dividido
Aguinaldo Ribeiro admite que o PP está dividido entre a candidatura de Chinaglia e a do peemedebista Eduardo Cunha. Segundo Ribeiro, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI) não foi ao almoço porque não tinha chegado em Brasília. O atual líder da bancada Eduardo da Fonte (PE) estava em Brasília e não apareceu no encontro. Boa parte da bancada do PP quer integrar o bloco partidário de Eduardo Cunha. "Vamos discutir isso e tentar sair sem traumatismos para a base, sair também com o partido unido", disse Ribeiro.
Kassab chegou mais cedo, ficou meia hora e saiu. Disse que fora só dar um abraço em Chinaglia. Mas o presidente nacional do PSD, Guilherme Campos (SP) participou do encontro e reforçou o apoio a Chinaglia e ao bloco. Os ministros foram chamados para segurar a ida do PP, PR e PRB para a campanha de Cunha. Os ministros dos Transporte e da Integração Nacional foram ao almoço em carros oficiais.
Berzoini alfinetou, sem citar nominalmente, o peemedebista Eduardo Cunha, que na semana passada fez duras críticas à interferência do governo na eleição da Câmara, acusando o governo de usar os cargos para garantir apoio a Chinaglia. Segundo Berzoini, o bloco em formação tem por objetivo fortalecer a solidariedade da base aliada. "Quem é base tem que fazer um esforço para fortalecer a solidariedade da base. Óbvio que declarações no sentido de desgregação não ajudam", disse Berzoini.
Chinaglia afirmou que a reunião de lideranças e dirigentes de oito legendas teve um peso importante em sua campanha, mas que ele continuará trabalhando intensamente em busca de votos dos deputados. Para ele, há uma grande oportunidade de formação deles bloco com mais de 230 deputados. Chinaglia negou interferência do governo na candidatura e disse que os ministros foram ao evento no horário do almoço deles. "O ato está dentro dos limites tanto do trabalho institucional - os ministros vieram aqui na hora do almoço - quanto das escolhas políticas. A relação é com os três poderes. O bloco vai atuar em conjunto, de forma solidária", disse Chinaglia.
Voo de galinha
O deputado Guimarães (PT-CE) comemorou o encontro: "Teve significa e simbolismo político. Discutimos o país e a política, a criação de um bloco para sustentar a política do governo. O PT está disposto a fazer concessões para agregar o bloco, dando espaços para os partidos. Vamos viabilizar o bloco e ninguém vai dar rasteira em ninguém. Vai predominar o espírito público. Fizemos do limão uma limonada."
O deputado Silvio Costa (PSC-PE) estava no encontro e aposta no fortalecimento da campanha de Chinaglia: "Eu disse, desde o o início que a candidatura do Cunha era voo de galinha. O Chinaglia vai vencer!"
Deixe sua opinião