- O Estado brasileiro pediu desculpas na sexta-feira a 13 vítimas do regime militar (1964-85), numa cerimônia pública que é parte de um esforço mais amplo para reparar os abusos cometidos no passado.

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Ao contrário de outros países sul-americanos, como Argentina e Chile, o Brasil nunca levou ninguém a julgamento por homicídios ou torturas cometidos por agentes do regime, graças à Lei da Anistia, aprovada em 1979 pelo Congresso.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende o perdão em vez dos processos judiciais, mas vários integrantes do governo discordam.

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A Caravana da Anistia, criada pelo Ministério da Justiça, percorre o país desde abril pedindo o perdão de vítimas e/ou de seus parentes, em nome do Estado, e oferecendo indenizações em vários casos.

Mas a cerimônia de sexta-feira, na presença de bispos e outras personalidades, foi o primeiro pedido de perdão com mais destaque público, num gesto simbólico para centenas de pessoas que foram mortas e milhares que foram torturadas durante a ditadura.

"O objetivo é paz, reconciliação e perdão", disse Paulo Abrão Pires Jr., diretor da Caravana da Anistia.

O grupo já assumiu a culpa do Estado em 172 casos de violação de direitos humanos, e ainda vai avaliar outras 25 mil solicitações de vítimas.

Lula disse em agosto que seu governo não tentará rever ou anular a Lei de Anistia, conforme sugeriu uma declaração do ministro da Justiça, Tarso Genro, que provocou inquietação nos quartéis ao dizer que os torturadores deveriam ser julgados.

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Alguns integrantes do governo querem que o Judiciário declare que a Lei da Anistia não abrange crimes como tortura, o que permitiria o julgamento de militares envolvidos na repressão a militantes de esquerda.

"Os juízes precisam decidir se pode cobrir a tortura, a violência sexual, a decapitação e dissecação", disse o secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, a jornalistas presentes na audiência de sexta-feira.

"A Lei da Anistia não cobre crimes violentos, agressões ou terrorismo - ela não é de abrangência total", disse Vannuchi, acrescentando que a Justiça deve se manifestar em breve.

O Minstério Público Federal de São Paulo apresentou em maio uma denúncia por tortura contra oficiais militares. A Organização dos Estados Americanos vai neste mês discutir a lei brasileira, e pode tomar uma decisão de cumprimento obrigatório, segundo o secretário.

ARQUIVOS SECRETOS

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O governo Lula também abriu arquivos secretos revelando alguns abusos aos direitos humanos durante o período, e ainda pode investigar autoridades suspeitas de destruir provas.

"Há uma decisão do presidente de que ele não vai entrar para a história como o presidente que acobertou essa questão ", disse Vannuchi.

Diante de uma lacrimosa platéia na sexta-feira, a comissão relatou em detalhes alguns casos de abusos.

O ativista católico Ruy Frasão Soares, por exemplo, foi detido e torturado em 1964, e posteriormente viveu na clandestinidade. Foi preso novamente em 1974, e nunca mais foi visto. Sua viúva o representou na audiência de sexta-feira.

Há 170 pessoas que desapareceram durante o regime militar e ainda não tiveram seus corpos encontrados.

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"A comissão lembra as gerações mais jovens dos fatos que mancharam nossa história com sangue", disse o bispo Geraldo Lyrio Rocha. "Nunca devemos acobertar esse crime.