A primeira tentativa de votação pela Assembleia Legislativa do ajuste fiscal proposto pelo governo do Paraná, acompanhada de protestos e posterior invasão do plenário da Casa por servidores, completou cem dias na última quarta-feira (20). Desde então, a situação só piorou.
O governo se viu obrigado a recuar em pontos do ajuste. Mas, reformar a Paranaprevidência manteve a briga com os servidores. O impasse gerou novas manifestações, até a “batalha” do Centro Cívico, no mês passado. O cenário daqui para a frente se mantém nebuloso para o governador Beto Richa (PSDB). Mesmo a troca de alguns secretários e a tentativa de diálogo não satisfizeram os servidores. Há 26 dias, os professores da rede estadual iniciaram uma nova greve. Com os cofres comprometidos, o Executivo propõe um reajuste menor que a inflação, mas não consegue acordo.
O conflito gerou ainda um desgaste com o Legislativo: pela primeira vez, Richa não sabe se conseguirá base suficiente para aprovar a proposta. Com a ajuda de especialistas, a Gazeta do Povo fez uma análise da crise pela qual passa o estado há cem dias e propôs algumas sugestões para solucionar os problemas enfrentados por Richa nas áreas econômica, educacional e política .
Política
Especialistas destacam que, mesmo envolvendo diferentes áreas, a solução da crise pela qual passa o governo naturalmente passa por decisões políticas. Para o especialista em comunicação política Daniel Gutierrez, o agravamento da situação ocorreu, principalmente, por medidas equivocadas que vêm sendo tomadas pelo governador Beto Richa. “Quando ele foi eleito, o discurso de diálogo era muito consistente, e agora ele está indo contra todo esse discurso”, diz. Gutierrez explica ainda que o tucano fica em uma situação perigosa, já que é um líder que rapidamente conquistou o apoio do eleitor, mas que pode ver essa “paixão” terminar rapidamente. “É diferente da figura do pai dele [José Richa, ex-governador], que demorava mais para conquistar os eleitores, mas que mantinha uma posição mais consistente, mesmo diante de crises”, explica.
Para ele, para afastar esse perigo, é preciso investir no diálogo. O cientista político da UFPR Fabrício Tomio diz que uma solução possível para a crise seria um acordo entre Legislativo e Executivo, envolvendo os diversos partidos – inclusive da oposição –, para amenizar a sensação de falta de credibilidade do governo. Esse acordo deve ser acompanhado de medidas efetivas em outras áreas. “Todos os atores têm de participar do sacrifício, como o econômico. Se alguns perceberem que são mais afetados que outros, vão naturalmente elevar o tom”, diz Tomio.
Educação
É unânime a opinião de que um acordo entre governo e servidores da educação em greve só vai ser possível com muito diálogo. Porém, mesmo com a troca de comando na Secretaria da Educação e com conversas quase diárias entre Executivo e professores, a solução parece estar longe. Na última sexta-feira (22), o Ministério Público do Paraná chegou a se colocar à disposição para mediar as negociações e a conciliação entre o governo e a categoria.
A especialista em Educação e professora da UFPR Araci Asinelli e o presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe), Jacir Venturi, afirmam que a solução para o impasse só será alcançada realmente com a ajuda de mediadores. “É importante que a sociedade, com as suas entidades representativas, participe do diálogo para tentar compor aquilo que é possível para ambos os lados. Mas é importante que essa mediação ocorra com a ajuda de pessoas com neutralidade”, diz Venturi.
Araci afirma que é preciso ainda deixar de politizar o discurso. Ela lembra que o alcance da crise fez chamar a atenção da sociedade para o problema; por isso, posteriormente ao acordo, é necessário aproveitar a situação para retomar um plano de investimento na área educacional no Paraná, de médio e longo prazo. “Até agora, esse plano tem ficado no discurso vazio, mas ele é necessário para, inclusive, prevenir que situações como essa voltem a ocorrer.”
Economia
As finanças em baixa têm sido a grande pedra no sapato do governo Richa. Segundo o economista e reitor da Universidade Positivo, José Pio Martins, a crise na área é consequência de uma soma de fatores: o problema de caixa do governo, pressão legítima dos servidores pelo reajuste, a situação econômica ruim pela qual passa todo o Brasil e aspectos estruturais, que dizem respeito à lógica do setor público.
“Em épocas de prosperidade, o setor público cresceu demais, inchou, intrometeu-se em áreas nas quais não devia estar, abusou do endividamento. E agora o setor público não cabe mais no PIB brasileiro. Isso vale para o Paraná”, diz Martins. Citando o economista Roberto Campos, ele afirma que a crise é uma oportunidade para promover reformas “efetivamente duradouras”. “Enquanto houver remendos possíveis e protelação, governante nenhum e Poder Legislativo nenhum irão aprovar reformas”, explica.
No curto prazo, a professora de Administração da Unicuritiba Patricia Tendolini diz que a solução para a crise do estado passaria pelo aumento de arrecadação e diminuição de gastos. “Na prática, isso significa aumento de impostos e redução de investimentos”, explica. Para ela, porém, antes de transferir a conta para a população, é preciso que o governo corte gastos de custeio. “Ou seja, corte em gastos supérfluos e não em gastos importantes para o funcionamento do estado.”
O minério brasileiro que atraiu investimentos dos chineses e de Elon Musk
Desmonte da Lava Jato no STF favorece anulação de denúncia contra Bolsonaro
Fugiu da aula? Ao contrário do que disse Moraes, Brasil não foi colônia até 1822
Sem tempo e sem popularidade, governo Lula foca em ações visando as eleições de 2026