Diante do agravamento da crise política, com a cúpula do governo e do PMDB arrastados para o centro da Lava-Jato e com baixa popularidade, o presidente Michel Temer aposta na aprovação de medidas econômicas no Congresso e no anúncio de um minipacote de ações para a retomada do crescimento numa tentativa de tirar sua gestão das cordas. Neste domingo (11), o peemedebista deflagrou uma intensa mobilização junto à sua base de apoio para manter os partidos comprometidos com o governo.
Para não perder um dos seus principais aliados, o PSDB, Temer se reuniu à tarde com o líder do partido na Câmara, Antônio Imbassahy (BA). Ele quase foi oficializado ministro da Secretaria de Governo na última sexta-feira. A missão, no entanto, foi abortada pela forte reação do “centrão”, grupo formado por partidos médios como PP, PSD, PR e PTB, deixando os tucanos muito incomodados. A cúpula do PSDB interpretou o gesto de ontem do presidente como uma deferência ao partido depois da “fritura” imposta a Imbassahy, com o vazamento da informação de que ele seria nomeado.
Nesta segunda-feira (12), o peemedebista deverá se reunir com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), para desfazer o malentendido e resolver a situação.
Neste domingo, Temer conversou com os ministros do núcleo político do governo, entre eles, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco, secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos, ambos citados na delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Mello Filho. Neste encontro, debateram sobre a aceleração do pacote de estímulos à economia. As medidas vêm sendo estudadas pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento e deverão ser anunciadas nesta semana.
Delação
Os peemedebistas discutiram também estratégias de reação às denúncias do ex-executivo da Odebrecht. Além do efeito desestabilizador sobre o Palácio do Planalto, há preocupação com uma eventual paralisia do Congresso, o que poderia inviabilizar a aprovação das reformas econômicas propostas por Temer. Ainda mais depois que o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), o ministro Padilha e Moreira Franco figuraram como principais contatos da Odebrecht no Congresso. O delator revelou que a empreiteira pagou R$ 17 milhões para modificar 14 leis nos últimos oito anos. A fragilização política desse grupo muito próximo ao presidente pode aumentar a gravidade da crise.
Setores do PMDB avaliam a possibilidade de pedir a anulação da delação do ex-diretor, por ter sido vazada antes mesmo da homologação pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Governistas lembram que a delação do diretor da OAS Léo Pinheiro não foi homologada.
A estratégia, no entanto, não é consenso. Um auxiliar presidencial disse que o momento é de analisar “com frieza” todos os cenários, sem que haja precipitação e medidas acabem sendo tomadas de forma açodada. A tese da anulação acaba enfraquecida porque, diferentemente da OAS, a denúncia da Odebrecht já foi assinada com o Ministério Pùblico Federal.
À noite, Temer participou de jantar com deputados da base aliada na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também citado na delação de Cláudio Melo. A ideia inicial era que Maia se reunisse com o presidente no Palácio do Jaburu. No entanto, com dezenas de parlamentares em Brasília, Temer decidiu aproveitar para fazer uma reunião com a base.
A prioridade do peemedebista é garantir as votações no Congresso. Aos deputados, os principais pedidos são para aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017, na terça-feira, e a admissibilidade da Reforma da Previdência pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa antes do início do recesso, marcado para o dia 16 de dezembro.
A preocupação do Planalto é que sem a LDO não há regras orçamentárias quer permitam gastos no ano que vem. O texto principal da LDO foi votado em agosto pelo Congresso, mas ainda há destaques pendentes por recorrente falta de quorum para reunir deputados e senadores. A LDO é fundamental para o governo porque fixa a meta fiscal, que em 2017 será de um déficit de R$ 139 bilhões. Quanto à PEC do Teto, ela deve ser aprovada pelo Senado, em segundo turno, na terça-feira, segundo aliados. Se cumprido o cronograma, a medida será promulgada pelo Congresso na próxima quinta-feira.
É com esta agenda positiva que Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), esperam encerrar os trabalhos. O governo também desistiu de convocar o Congresso em janeiro, período de recesso parlamentar, para acelerar a aprovação da Reforma da Previdência. O presidente Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), outro citado na delação, e outros aliados aconselharam Temer a desistir da convocação para reduzir a pressão política e o agravamento da crise política.
Temer anda irritado com a má comunicação do governo e quer reforçar respostas a delações e a críticas às medidas do governo, como a PEC do Teto, apelidada pela oposição de “PEC da morte” e a Reforma da Previdência, que aumenta tempo de contribuição e idade mínima para aposentadoria.
No jantar com os aliados, o presidente buscou tranquilizar sua base quanto às denúncias que atingem o núcleo de seu governo e a cúpula do PMDB no Senado. Temer tem dito aos aliados que é preciso avaliar com frieza a delação, porque vê muitas incongruências nas denúncias.
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