Em decisão, Eros Grau aceitou pedido da OAB, que argumenta que tortura é um crime comum| Foto: Marcelo Casal/ABr

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), terão que prestar informações sobre os crimes de tortura praticados contra presos políticos durante o regime militar (1964-1985). A decisão é do ministro Eros Grau, que acatou pedido feito pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, em uma Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental.

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Na decisão, Grau também determina que o processo seja enviado para manifestação do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, assim que Lula e Garibaldi enviarem as informações. Na ação, a OAB pede a declaração de que a Lei de Anistia não pode ser interpretada como aplicável a crimes comuns, como tortura, sob pena de violar preceitos fundamentais da Constituição.

Em meio a discussão sobre a abertura dos arquivos do regime militar, o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo, voltou a condenar o debate sobre uma possível revisão da Lei da Anistia levantado pelo governo federal. Mendes, que já defendeu o fim das discussões sobre o tema, afirmou repudiar as tentativas de politização que envolvem este tipo de debate. "Evidente que esse tema – direitos humanos – se presta a idealizações ou politizações, eu tenho uma posição clara com relação a isso: repudio qualquer tentativa de manipulação ou tentativa de tratar unilateralmente os casos de direitos humanos", afirmou.

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O ministro também aproveitou para responder às declarações da ministra Dilma Roussef (Casa Civil), que afirmou considerar "imprescritíveis" os crimes de tortura cometidos no país. "Essa discussão sobre imprescritibilidade é uma discussão com dupla face, porque o texto constitucional também diz que o crime de terrorismo é imprescritível."

A declaração de Dilma foi motivada pelo parecer emitido pela Advocacia-Geral da União (AGU) que considera perdoados pela Lei da Anistia os crimes de tortura cometidos na ditadura.

Para evitar novas discussões sobre a tortura no regime militar, o presidente Lula determinou ontem a seus ministros que não haja posicionamentos públicos sobre a interpretação a ser dada à Lei de Anistia. Para Lula, "a última palavra não será de A, B ou C e nem dele". Caberá ao STF decidir sobre o tema, ao julgar as ações que lá tramitam, definindo que tipos de crimes estão ou não cobertos pela legislação. De acordo com assessores do Planalto, Lula não vai se posicionar sobre o tema. O presidente quer evitar arbitrar em favor da posição de um ou outro ministro, para que não saia como vencedor ou vencido, quando o STF tomar a sua decisão.