Pasadena
Estatal teria propostas "melhores" para revender refinaria
Agência O Globo
A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse ontem que a Petrobras tem recebido melhores propostas para compra da refinaria de Pasadena (EUA), conforme o preço do petróleo no mercado internacional vem avançando, assim como as margens de retorno da refinaria. No entanto, ela disse que a estatal não quer mais vender a refinaria neste momento de polêmicas sobre o negócio.
"Temos propostas para compra de Pasadena melhores do que as que foram colocadas meses atrás. Entendemos que, nesta fase de discussões, com TCU, CGU e Ministério Público, não seria uma boa prática que desinvestíssemos em Pasadena. Essa melhor oferta que temos não cobre o que investimos, mas é melhor do que tínhamos meses atrás", afirmou.
No rol de críticas veladas à gestão anterior da Petrobras, Graça concordou com críticas do senador de oposição Aloysio Nunes (PSDB-SP) sobre a evolução do orçamento da refinaria da Abreu e Lima, em Pernambuco, mas destacou que nos últimos dois anos e meio (período no qual Graça está à frente da Petrobras) o volume de investimentos projetado vem sendo cumprido.
"[O investimento na refinaria] é, de fato, uma lição a ser aprendida e não repetida. O Planejamento feito há dois anos e meio está seguindo o que planejamos. Mas, quando se diz que saímos de US$ 2,5 bilhões a US$ 18 bilhões [em orçamento da refinaria], o senhor tem razão", disse.
Graça, porém, ponderou que os erros da Petrobras em investimentos na área de refino não podem ser todos colocados na conta de Paulo Roberto Costa. "A área internacional foi quem conduziu o processo [de Pasadena]. Houve participação do abastecimento [área que Costa dirigia]. Não é porque ex-diretor hoje está preso, que a gente vai colocar tudo na conta do Paulo Roberto, não seria correto", afirmou.
PF indicia 28 na Operação Lava Jato
A Polícia Federal (PF) finalizou ontem o inquérito da Operação Lava Jato, que apura um esquema de corrupção que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões, pedindo o indiciamento de 28 pessoas. Entre elas estão o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O deputado federal André Vargas (PT) não está entre os indiciados.
Costa e Youssef, que estão detidos em Curitiba, irão responder por evasão de divisas, manutenção de contas não declaradas no exterior, operações não autorizadas pelo sistema de câmbio, desvio de recursos públicos, fraudes em licitações, corrupção ativa e passiva e formação de quadrilha. Outras 12 pessoas que também estão presas irão responder pelos mesmos crimes.
O doleiro Carlos Habib Chater, também preso em Curitiba, irá responder ainda por financiamento ao tráfico de drogas.
Com o feriado prolongado da Justiça Federal que não trabalha a partir de hoje o juiz da 13.ª Vara Federal, Sérgio Moro, só deve receber o material na próxima terça-feira. A tendência é que a força-tarefa, composta por seis procuradores designados pela Procuradoria da República para investigar o caso, apresente na terça a denúncia contra os suspeitos.
A expectativa é de que, com mais tempo, a força-tarefa consiga avançar nas investigações iniciadas pela PF, analisando e fazendo ligações entre novas provas. O material obtido na sede da Petrobras e os documentos apreendidos com Costa e Youssef são considerados essenciais para isso. Um dos trunfos da força-tarefa é que três procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima, Orlando Martello Junior e Deltan Dallagnol já investigaram Youssef anteriormente. Eles participaram do grupo que conduziu as investigações relativas ao envio ilegal de dinheiro do exterior por meio das contas CC-5. Na época, Youssef foi condenado por evasão de divisas, mas escapou da prisão fazendo um acordo de delação premiada com a Justiça.
Transferência
Ontem, os procuradores da força-tarefa deram parecer favorável à transferência de Youssef, Chater e de outro doleiro para o presídio federal de Catanduvas, no interior do estado. A procuradoria também pede a transferência de uma doleira para o presídio feminino. A decisão será dada pelo juiz Sérgio Moro depois de ouvir a argumentação da defesa. O advogado de Youssef, Antônio Figueiredo Basto, é contrário à transferência e nega que os clientes tenham praticado qualquer ilicitude. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o advogado de Chater e dos outros detidos.
Guilherme Voitch
A presidente da Petrobras não conseguiu reduzir o ímpeto da oposição em conseguir uma CPI exclusiva para investigar a estatal. Em depoimento ontem aos senadores, Graça Foster colocou a culpa do baixo retorno da compra de uma refinaria nos Estados Unidos em 2006 na crise econômica mundial, admitiu que a aquisição foi um mau negócio e defendeu Dilma Rousseff. Para os críticos do governo, as explicações não são suficientes e é preciso fazer a investigação. A resolução sobre a CPI, no entanto, ficou para a semana que vem.
O depoimento de Graça Foster foi parte de uma estratégia do governo para tentar esvaziar a CPI pedida pela oposição. Aos senadores, ela reforçou a versão dada anteriormente pela presidente Dilma, que à época da decisão da compra da refinaria em Pasadena, no Texas, era presidente do conselho da Petrobras. Segundo essa explicação, a compra foi feita com base em um relatório incompleto. O culpado, nesse caso, seria o antigo diretor da área internacional, Nestor Cerveró, demitido após o início das denúncias contra a empresa. Cerveró deve depor hoje na Câmara dos Deputados.
Graça Foster disse que hoje é impossível defender a compra como sendo um bom negócio. A Petrobras pagou US$ 1,25 bilhão pela refinaria e, segundo a presidente da empresa, o prejuízo da estatal foi de US$ 530 milhões. "Hoje, olhando aqueles dados, não foi um bom negócio, não pode ser um bom negócio. Quando você tem de tirar do seu resultado, não há como reconhecer que tenha feito um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil", disse.
No entanto, Foster negou que a antiga proprietária da refinaria tenha comprado o mesmo ativo por US$ 42,5 milhões, como afirma a oposição. Segundo ela, o preço mínimo pago pela Astra Oil, computados os estoques remanescentes, contatos de clientes e informações foi de US$ 360 milhões.
Investigação
Governistas e oposição travaram embate durante a sessão de ontem do Senado. Para o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), não há como comparar o convite para a presidente da Petrobras prestar esclarecimentos com as investigações de uma CPI. "A CPI é para fazer as pessoas falarem mais. É outra instância. A exposição de hoje [ontem] não descarta a continuidade das investigações", afirmou.
Já o líder do governo no Senado, José Pimentel (PT-CE), disse acreditar que a participação de Graça na audiência pública vai frustrar a tentativa da oposição de investigar a empresa. "O Brasil sai satisfeito com essa audiência pública. Aqueles que tinham a intenção de lapidar a Petrobras ficaram frustrados", afirmou.
Ainda ontem, a ministra Rosa Weber, relatora de uma ação no Supremo Tribunal Federal relativa à instalação da CPI, recebeu senadores oposicionistas. Eles foram pedir que a ministra defira liminar garantindo que a Petrobras seja o único tema da CPI. O governo trabalha para que outros temas sejam incluídos, como escândalos de estados governados pela oposição. A ministra afirmou que decisão será dada na próxima semana.
Senado adia decisão sobre qual CPI criar
Folhapress
Em ação orquestrada pelo governo, o Senado adiou para depois da Semana Santa a decisão sobre a instalação da CPI da Petrobras. Oficialmente, os governistas afirmam que o Congresso precisa esperar decisão do Supremo Tribunal Federal sobre qual comissão deve ser instalada. Em ano eleitoral, o Planalto trabalha para que a CPI não arranhe a imagem de Dilma Rousseff. O governo aposta no curto calendário do Congresso até junho, com o início da Copa do Mundo, para evitar que comissão inicie os trabalhos.
A comissão de inquérito será instalada somente depois que o plenário decidir sobre recurso do PSDB que pede a instalação de comissão de inquérito exclusiva da Petrobras. A Comissão de Constituição e Justiça decidiu em favor da CPI ampliada, como defende o governo.
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