O ex-assessor da Secretaria de Fazenda de Ribeirão Preto (SP) Vladimir Poleto, em depoimento nesta quinta-feira na CPI dos Bingos, refutou a denúncia publicada pela revista "Veja" de que ele teria participado do transporte de dinheiro doado ilegalmente pelo governo cubano à campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A revista cita valores diferentes: US$ 1,4 milhão ou US$ 3 milhões.
- Jamais transportei dinheiro em avião. Jamais recebi a missão de pegar dinheiro cubano. A matéria é falsa em seu conteúdo - disse Poleto no início do depoimento.
Segundo ele, no dia 31 de julho de 2002, transportou, a pedido do chefe, o então secretário municipal de Fazenda Ralf Barquete (falecido em 2004), em um avião Seneca, em vôo de Brasília a Campinas (SP), três caixas lacradas de uísque, duas do tipo Black Label e uma de White Label. Poleto teria recebido as caixas do porteiro de um prédio na Asa Sul de Brasília. Disse não se lembrar do endereço. Também negou conhecer Sérgio Cervantes, cubano apontado por "Veja" como intermediário da suposta doação dos dólares ao PT.
Poleto prestou depoimento munido de um hábeas-corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal. Contou que se encontrou na noite de 21 de outubro passado com o jornalista de "Veja" Policarpo Junior num hotel de Ribeirão Preto. Antes teria participado de um churrasco em que bebeu cachaça. No encontro com o repórter, disse que bebeu chope. Destacou que estava, portanto, alcoolizado durante a conversa e que não autorizou a gravação da entrevista nem sua publicação. Acusou o jornalista de tê-lo coagido com um dossiê com"informações sigilosas sobre dados telefônicos, bancários e fiscais".
- Ninguém cria (uma história) porque bebeu. Alguém fala o que não deveria ter falado porque bebeu - analisou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).
O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) propôs que a CPI promova uma acareação entre Poleto e Policarpo, da qual o ex-assessor concordou em participar. Mas na própria sessão do depoimento, estabeleceu-se o contraditório. A revista "Veja" divulgou em seu site a gravação da entrevista. A pedido do senador Demóstenes Torres (PFL-GO), a gravação foi exibida aos senadores. Nela, Poleto afirma ao repórter que não sabia estar transportando dinheiro, mas que esse fato foi posteriormente revelado a ele por Barquete:
- vim saber depois que acabei transportando alguns pacotes e num deles havia dinheiro - disse.
O áudio também dá a entender que Poleto sabia que estava sendo gravado, pois o ex-assessor é apresentado, na identificação da fita, pelo repórter.
- É claro que o senhor Poleto está mentindo de maneira absolutamente deslavada diante deste plenário. Eu peço o imediato indiciamento do senhor Poleto - reagiu o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
- O que o senhor Vladimir Poleto colocou aqui é o oposto do que está dito na fita - observou o senador Tião Viana (PT-AC), solicitando que Poleto se explicasse. Ele manteve a versão do depoimento. A seguir, amparou-se na justificativa da embriaguez.
- Eu tenho certeza absoluta que não estava no meu processo de sã consciência. Na realidade, eu não tinha capacidade de discernimento (durante a entrevista) - afirmou.
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