Gravações em poder da Polícia Federal mostram o então secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal, Durval Barbosa, puxando conversa com o chefe da Casa Civil, José Geraldo Maciel, sobre uma suposta arrecadação de propina. Na conversa, o governador José Roberto Arruda (DEM) é citado como o "Big Boss" (Grande Chefe) do mensalão de Brasília:
Durval Sempre quem conduz é o big boss lá (o governador Arruda).
Durval passa então a explicar que Arruda costuma determinar como seria a distribuição do dinheiro. Afirma que chegou um novo lote de dinheiro de empresas como a Vertax e a Linknet, citadas como abastecedoras do esquema de propina, e diz que o governador precisava ser consultado sobre a divisão.
Maciel Quanto que tem de dar isso aqui?
Durval A priori deve dar 200 mil.
Em outro trecho, Maciel chega a perguntar se o dinheiro seria um adicional aos "1.5", referência ao porcentual de propina supostamente praticada no esquema.
Maciel Então o que ficaria livre para ele (Arruda) dispor?
Durval Um e duzentos. Tá. Eu vou falar com ele.
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Brasília - A enxurrada de denúncias do mensalão do DEM atingiu a cúpula do PMDB na Câmara dos Deputados. Gravações divulgadas ontem pelo jornal Folha de S.Paulo mostram dois dos envolvidos no suposto esquema de propina do governo do Distrito Federal Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do governo do DF e denunciante do mensalão brasiliense, e Alcyr Collaço, dono do jornal Tribuna do Brasil conversando sobre distribuição de dinheiro para líderes peemedebistas. São citados o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP); o líder da bancada peemedebista na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN); e os deputados federais Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Tadeu Filipelli (PMDB-DF). Os peemedebistas citados negaram a acusação.
Na gravação divulgada pela Folha, o ex-secretário Durval Barbosa diz que o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), "dava 1 milhão por mês para Filippelli". Collaço fala em outro valor e detalha a suposta partilha: "É 800 pau (sic). Quinhentos pro Filippelli, 100 para o Michel, 100 para Eduardo, 100 para Henrique Alves". O PMDB faz parte do governo do DF.
Michel Temer negou ter recebido propina do esquema e informou que deve acionar judicialmente o empresário Alcyr Collaço. Em nota à imprensa, o presidente da Câmara qualificou de "irresponsável e descabida" a citação de seu nome na conversa entre Collaço e Barbosa.
A denúncia contra Temer é a segunda nesta semana. Anteontem, tornou-se pública a informação de que o nome do presidente da Câmara aparece em planilhas da contabilidade paralela da empreiteira Camargo Corrêa, investigada pela Operação Castelo de Areia da Polícia Federal por supostamente ter financiado o caixa 2 eleitoral de diversos políticos. Temer também negou essa denúncia.
Incabíveis
Já o deputado Henrique Eduardo Alves classificou de "incabíveis e despropositadas" as denúncias de que a cúpula do partido teria recebido propina no esquema do mensalão do DEM. "Estou indignado e perplexo com o conteúdo dos diálogos inverídicos, levianos e caluniosos. Vou tomar todas as providências jurídicas visando à reparação e, inclusive, ingressei com a primeira queixa-crime, hoje (ontem), contra o responsável pela citação (Collaço)", disse.
Os deputados Eduardo Cunha e Tadeu Filipelli informaram que ingressaram com queixa-crime contra Collaço. Cunha atribuiu ao ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC) a responsabilidade pela divulgação do vídeo. "A minha suspeição é que seja uma vingança do Roriz pela sua saída do PMDB. Estou indignado com essa situação. Não conheço nenhuma dessas pessoas, nunca nem ouvi falar neles", disse o deputado.
Os três deputados chancelaram a permanência de Filippelli no comando do PMDB do Distrito Federal, forçando a saída de Roriz do partido em setembro. Roriz foi rifado com a aliança dos peemedebistas com o governador José Roberto Arruda.
Temer ainda viu na divulgação do vídeo a possibilidade de desestabilizar sua intenção de disputar a Vice-Presidência da República na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). "Pode ser. Sem colocar a questão da vice, mas como se fala nisso, é possível que seja isso", reconheceu Temer.
Pedido de explicação
Já o senador Pedro Simon (PMDB-RS) encaminhou ontem uma carta à presidente interina do PMDB, Iris de Araujo, na qual pede que o partido se explique publicamente sobre a suspeita de que parte da cúpula da legenda teria recebido dinheiro do mensalão do DEM. Simon afirma, na carta, que o partido precisa dar uma "cabal satisfação" à sociedade para explicar o episódio.
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