Uma gravação que está em poder do Ministério Público (MP), e que foi obtida pela Gazeta do Povo, mostra o vereador de Cascavel Paulo Bebber (PR) supostamente pedindo propina a um corretor de imóveis responsável pela negociação de uma área onde serão construídas 2.089 moradias do programa federal "Minha Casa, Minha Vida". O MP e a Polícia Civil investigam o caso. O conjunto Riviera prevê investimentos de aproximadamente R$ 140 milhões. Ouça a gravação no quadro abaixo.
A gravação tem 11 minutos de diálogo. O corretor, não identificado, trata o vereador por "Paulinho". Bebber é enfático sobre a cobrança e fala em "pedido 500 paus para acertar com todo mundo", numa possível referência a um grupo de vereadores que ele se refere como "parceiros". Os "500 paus" seriam R$ 500 mil.
Bebber frisa que o pagamento tem de ser feito antes da votação em plenário do projeto que altera o perímetro urbano do município e cria o loteamento. "Tudo tem que se resolver daqui até a semana que vem [esta semana], até segunda-feira, terça, no máximo quarta-feira, mas não adianta esse negócio de depois [votar o projeto para receber o dinheiro posteriormente]", afirma.
Em outro trecho da conversa, Bebber afirma que "até sexta-feira da semana [da última semana] que vem tem que estar com esse dinheiro na mão". Ele explica ao corretor que, se o dinheiro não for entregue, o projeto não seria aprovado.
"Não entrando [o dinheiro], todo mundo vai se reunir e vai dizer: 'Isso não presta para Cascavel'", afirma. "Se não acertar esses valores no cash, volta à estaca zero? Não. Não vai ser aprovado", completa. O corretor faz questão de dizer que a única comissão em que ele está interessado é sobre a venda da área.
O vereador diz, ainda, que o secretário de Desenvolvimento Econômico, Luciano Fabian, teria falado que lhe ofereceram R$ 150 mil para liberar a área e que isso poderia ser feito por meio de um decreto.
Investigação
Luciano Fabian e Paulo Bebber são alvos de investigação do MP desde sexta-feira, quando o promotor Sergio Machado recebeu as gravações. Ambos negam que tenham negociado a suposta propina.
Em discurso no plenário nesta segunda, Bebber negou as acusações e disse que nunca esteve com diretores da empreiteira responsável pela obra ou com os donos da área. "Eu tenho minha conta [bancária] liberada para quem quiser, não é só para a promotoria, para qualquer pessoa", disse. Ele afirmou que renunciará seu mandato caso seja provado que ele manteve contato com as referidas pessoas.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Luciano Fabian, também negou as acusações e disse ser o maior interessado nas investigações feitas pelo MP. Ele disse não conhecer os donos do imóvel nem os empresários responsáveis pela obra e que o assunto não faz parte da sua pasta.
Votação adiada
À pedido da prefeitura, a Câmara de Vereadores aprovou na semana passada regime de urgência na votação do projeto, mas, nesta segunda-feira (17), a urgência foi derrubada, e o projeto que seria votado em primeira discussão foi retirado de pauta.
O MP enviou um ofício à Câmara uma recomendação para que o projeto não fosse aprovado por não obedecer a critérios do Estatuto das Cidades. O promotor Sergio Machado citou o artigo 40 do estatuto, que diz que "no processo de elaboração do Plano Diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade", disse o promotor Sergio Machado, citando o estatuto.
A Polícia Civil, que também investiga o caso, divulgou nota informando que não irá divulgar o que foi apurado até o momento para não atrapalhar as investigações.
De virose na praia a prejuízos milionários: a corrida dos estados para melhorar o saneamento
Frases da Semana: “Somos tratados com furiosa obsessão negativa”
“Vendi meu olho”: por que tanta gente está escaneando a íris por dinheiro
Facções criminosas usam artistas do funk para fazer propaganda e recrutar jovens para o crime
Deixe sua opinião