O policial militar João Dias Ferreira - delator de suposto esquema de desvio de verbas do programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte para os cofres do PCdoB - negociou com assessores da pasta para se livrar de ser responsabilizado por irregularidades em convênio com o ministério, segundo reportagem da revista "Veja", publicada na edição deste sábado (22). João Dias era coordenador de ONGs que prestavam serviço para o programa Segundo Tempo. Ele procurou funcionários do alto escalão da pasta após o ministério encaminhar à Polícia Militar, onde trabalha, documento que cobrava R$ 3 milhões por irregularidades na prestação de contas da ONG do policial. Na sexta-feira, após uma semana de denúncias contra o Esporte, a presidente Dilma se reuniu com o ministro Orlando Silva e decidiu mantê-lo no cargo.
A revista traz a reprodução de trechos de uma gravação que mostra a negociação do PM com Fábio Hansen, então chefe de gabinete da Secretaria de Esporte Educacional, e responsável pelo programa, e Charles Rocha, então chefe de gabinete da Secretaria Executiva do ministério. Trata-se de um encontro em abril de 2008. O áudio pode ser a prova que João Dias prometeu entregar à Polícia Federal na segunda-feira.
Segundo a "Veja", os diálogos, gravados pelo policial delator, deixam claro que havia consenso entre ambas as partes para arrumar uma saída para livrar o PM das acusações.
"Eu só posso dizer a você duas coisas: primeiro, nós vamos apurar que m.. é essa. A coisa fugiu do controle e, por isso, estamos abrindo uma outra frente. Isso é um absurdo, está errado, antes de mais nada está errado. Como é que você está sendo cobrado em R$ 3 milhões?", diz Fábio Hansen na gravação.
Na gravação, os funcionários do Esporte sugerem como enganar a fiscalização do próprio ministério. "A gente pode mandar lá um ofício desconsiderando o que a gente mandou", sugere Charles Rocha. Hansen completa: "Você faz três linhas pedindo prorrogação de prazo". Depois, ele recomenda uma fraude ao sugerir que se apresente um pedido de prorrogação do prazo "com data anterior à notificação".
Quatro dias depois, de acordo com a revista, o ministério solicitou à PM que o documento anterior fosse desconsiderado.
Segundo a revista, a gravação mostra ainda o policial dizendo que militantes sumiram com o dinheiro que deveria der sido desviado para o partido. "O Fredo recebeu 800 paus nessa parada", disse. Ele se referia ao ex-deputado Fedo Ebling, dirigente do PCdoB, apontado como como um dos encarregados de coletar propina e entregar o dinheiro ao ministro do Esporte, Orlando Silva.
O nome do e-ministro do Esporte e governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, também é citado na gravação. "Nós conversamos com o Agnelo hoje. O Agnelo estava indignado. O Agnelo nos chamou de moleques hoje. (...) O Agnelo ficou p., ficou indignado. Falou: 'Vocês não sabem o estado em que está o João'", disse Hansen.
Ministério do Esporte nega acusações
Na sexta-feira, o Ministério do Esporte publicou em seu site a defesa contra as acusações de João Dias. A pasta informou que, em janeiro de 2008, um parecer da assessoria técnica do ministério relacionou as irregularidades cometidas por João Dias e sugeriu a rescisão dos convênios. Em 2 de abril de 2008, a pasta atendeu pedido do oficial da PM encarregado da sindicância contra João Dias e enviou ofício com informações sobre as irregularidades cometidas pelo soldado nos convênios, inclusive a exigência de devolução dos recursos transferidos às organizações dirigidas por ele.
No dia 7 de abril, João Dias pediu a prorrogação do prazo de prestação de contas do convênio. Ainda de acordo com o ministério, foi pedido à PM que desconsiderasse o ofício anterior até que fosse concluída a análise da prestação de contas, para garantir ao PM o direito de defesa e, não, por pressão de João Dias.
O ministério informa ainda que, no dia 19 de agosto de 2009, esgotados todos os prazos, um novo ofício foi enviado ao oficial encarregado do inquérito contra João Dias. Nesse documento, o Ministério reitera a decisão de instaurar Tomada de Contas Especial e encaminhar os processos à Secretaria Federal de Controle Interno. A conclusão da sindicância da PM/DF se deu no começo de 2011.
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