Identificado pela coordenação da campanha de reeleição de Beto Richa (PSDB) como sendo o autor do vídeo que mostra ex-candidatos a vereador do PRTB recebendo dinheiro após desistirem da candidatura, o ex-integrante do Comitê Lealdade Rodrigo Oriente aceitou ontem falar com a reportagem da Gazeta do Povo. Numa conversa de pouco mais de uma hora, Oriente, que também é ex-servidor municipal, afirmou que as imagens gravadas que foram exibidas no programa Fantástico e usadas como base da reportagem da Gazeta publicada no domingo não foram feitas por ele, e sim por Alexandre Gardolinski, coordenador do Comitê Lealdade do PRTB, de apoio a Richa.
Oriente nega a versão apresentada ontem pelo coordenador jurídico da campanha de Richa, Ivan Bonilha, e pelo coordenador financeiro, Fernando Ghignone, de que ele é quem teria divulgado a filmagem, com objetivo de prejudicar politicamente o prefeito Beto Richa.
Outro vídeo exibido ontem pelos coordenadores da campanha tucana sugere que Oriente teria sido pressionado pelo secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, para fazer a denúncia. Oriente rechaça a insinuação e afirma que, se alguém o pressionou, foram pessoas da prefeitura de Curitiba para que não divulgasse as supostas irregularidades durante a campanha de 2008 e na administração municipal.
Qual foi sua participação na gravação do vídeo feito no Comitê Lealdade?
O Alexandre (Gardolinski) solicitou a instalação de câmeras de segurança no comitê porque ele alegava que tinha sido roubado em R$ 800. As imagens exibidas no vídeo foram gravadas pelo Gardolinski e nada têm a ver com a câmera de segurança que eu instalei.
Por que ele gravou os ex-candidatos a vereador do PRTB recebendo dinheiro?
O Gardolinski gravou vários pagamentos que ele realizou, não somente o que apareceu nesse vídeo. Ele gravou pagamentos como entrega de combustíveis e as transações e negociações que envolveram os ex-candidatos. Ele queria obter uma segurança em relação à vida política dele próprio.
O Gardolinski, em algum momento durante a campanha, falou em caixa 2 com você?
Sim. Num momento ele relata que os recursos (do comitê) não seriam declarados. Inclusive, a própria prestação de contas e a entrega das notas fiscais originais ocorreu vários dias depois do término do prazo do TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
A coordenação da campanha de Richa concedeu uma entrevista coletiva que mostra um vídeo onde você aparece conversando com o procurador do município, Ivan Bonilha, e com Fernando Ghignone, presidente do comitê financeiro do PSDB. A reunião aconteceu no escritório particular do Ghignone. Você lembra desse encontro? E quem o solicitou?
Ele (Ghignone) me ligou no dia dessa conversa marcando uma reunião. Chegando lá, me apresentou o senhor Ivan Bonilha. Nessa reunião, ele iniciou dizendo que tinha recebido uma informação de que eu tinha prestado um depoimento no Nurce (Núcleo de Repressão de Crimes Econômicos, sobre irregularidades na prefeitura). Disse que o Bonilha estava ali para apurar as denúncias, que dentro das suas atribuições iria investigá-las garantindo que isso aconteceria de forma isenta e transparente. Eu relatei várias situações que foram objeto da denúncia. Num determinado momento, eles passaram a me instigar sobre questões que envolviam um vídeo. Eu disse que, por conta do depoimento (no Nurce), o vídeo foi apreendido.
Você mostrou todos os documentos para eles?
Num determinando momento, percebi que eles não estavam ali para saber das denúncias que eu tinha feito ao Nurce. Eles, de uma forma muita intensa, estavam especulando sobre questões eleitorais. Cogitaram vários nomes de personalidades políticas, tentando atribuir a responsabilidade desta gravação a um fato político.
O vídeo que eles apresentaram ontem à imprensa cita o senador Alvaro Dias, o secretário de Segurança Luiz Fernando Delazari e outras pessoas ligadas à política...
Infelizmente, o conteúdo do vídeo não está na íntegra. Ele foi editado porque trata, em sua maioria, das denúncias que eu estava fazendo da administração municipal. Denúncias que envolvem vários secretários municipais, vereadores, funcionários da prefeitura de vários níveis. E, infelizmente, o objetivo deles pareceu só ser a questão política. Nas palavras de Fernando Ghignone, "temos que fazer tudo para proteger o chefe".
Quem seria esse chefe?
Ele estaria se referindo ao prefeito Beto Richa.
Houve pressão do secretário Delazari para você divulgar o vídeo?
De forma alguma. Pelo contrário, o secretário Delazari, em uma ocasião que soube do ocorrido, me procurou e demonstrou maior atenção em relação à minha segurança. Se eu posso, com certeza, afirmar que fui pressionado por algum secretário não foi pelo secretário de Segurança, mas pelo secretário municipal Antidrogas, Fernando Francischini. Em algumas situações, ele deixou claro para eu não realizar nenhum tipo de denúncia.
Há algum envolvimento do senador Alvaro Dias na divulgação dos vídeos do Comitê Lealdade?
Eu nunca ouvi nem nunca conversei com nenhuma pessoa que o representasse e não me foi oferecida qualquer situação que envolvesse a pessoa do senador.
Você fez a denúncia por livre e espontânea vontade?
Sim. Fiz essa denúncia sem nenhum tipo de pressão. Pelo contrário, a pressão que eu tenho recebido é em relação a não fazer a denúncia. Essa pressão vem por parte de agentes da prefeitura.
Nota da Redação: o secretário Fernando Francischini foi procurado pela reportagem para comentar as declarações de Rodrigo Oriente, mas ele não quis se manifestar.
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