Atas de reuniões do Conselho de Administração da Petrobras mostram a ex-presidente da empresa Graça Foster admitindo que a estatal era “míope” para corrupção e que a Operação Lava Jato foi um “fato tenebroso” para a companhia. Em uma dessas reuniões, o conselheiro Silvio Sinedino, representante dos funcionários da Petrobras, disse que já havia governança (controle interno) na companhia, mas que ela se estendia apenas para os peões, e não para os diretores.
Na reunião de 4 de novembro de 2014, Graça defendeu interromper os projetos das refinarias Premium 1, no Maranhão, e Premium 2, no Ceará. Segundo ela, a companhia estava sem recursos. Além disso, seria temerário continuar os projetos sem terminar a investigação interna para apurar denúncias de corrupção na empresa.
“A gente tem muito receio e não deve começar a fazer outro grande projeto enquanto nós não tivermos percorrido todas as etapas das investigações que nós estamos fazendo na Petrobras. Eu não sei onde estão todos os pontos nem sei se eles existem dessa tal doença, da corrupção. Não sei onde estão, não sei quantos são e nem sei se eles existem além daqueles que estou vendo, que nós estamos vendo. Enquanto isso, não tem como passar com um projeto da grandeza de Premium 1 e da Premium 2”, afirmou Graça, concluindo: “Hoje, com a miopia que eu tenho dentro da companhia em relação a corrupção, eu não começaria um projeto de uma nova refinaria”.
“Tem a questão da corrupção, mas também do cenário econômico. talvez essas refinarias não sejam viáveis”, acrescentou o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Conselho de Administração Guido Mantega.
Na reunião de 25 de novembro de 2014, quando seria aprovada a criação da Diretoria de Governança, Risco e Conformidade, Graça defendeu medidas anteriores tomadas pela empresa na área de combate à corrupção. Mas, segundo ela, isso não foi suficiente para livrar a estatal “desse fato tenebroso” que é a Operação Lava Jato.
Quando passou a falar da criação da diretoria de governança,o conselheiro Sinedino protestou. “Eu acho que a simples criação dessa diretoria não resolve nosso problema. Por exemplo, há governança na Petrobras. Ninguém pode dizer que não há. A governança hoje funciona para os peões. Se um operador de refinaria, por exemplo, erra uma permissão de trabalho, é severamente punido. Já os diretores puderam, por exemplo, comprar a refinaria de Pasadena sem EVTE (estudo de viabilidade técnica e econômica). Como foi possível isso? Falta de governança? Governança existia. Só que ela só funciona para baixo. Será que essa estrutura só vai funcionar para baixo? Para cima, não vai funcionar?”, questionou Sinedino.
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