Quando presidente da OAS, o empresário Léo Pinheiro tratava com esmero suas relações com o mundo político. Não deixava escapar uma data comemorativa. Era lembrado religiosamente dos aniversariantes do dia por seus assessores. No Natal, a turma também não era esquecida. Os presentes que mandava entregar variavam: de kit de churrasco a biografia do jogador argentino Lionel Messi, de lenço da grife francesa Hermès a gravatas finas. Essa relação aparece em detalhes nos relatórios da Polícia Federal, que exibe a troca de correspondências entre esses personagens.
As mensagens mostram presentes para o ministro Jaques Wagner e o ex-ministro José Dirceu, em 2013, que fazem aniversário no mesmo dia: 16 de março. Um subordinado pergunta a Pinheiro se pode mandar os mimos na véspera, uma vez que o aniversário caiu no sábado. “Dr. Léo, amanhã [sábado] é Aniversário de Dr. J. Wagner e Dr. J. Dirceu. podemos entregar os presentes hoje?”, questionou Marcos Ramalho, secretário de Léo Pinheiro.
Em 20 de junho de 2014, alguém manda mensagem para Pinheiro lembrando o aniversário do hoje ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Edinho Silva: “Bom dia Dr. Léo hoje é aniversário do Dr. Edinho S. a entrega da lembrança será realizada em seu end. res. em SP”. A mesma mensagem faz referência a outro aniversariante: “Domingo será aniversário do Dr Marco Aurelio Garcia gostaria de sua orientação sobre quando deverei solicitar a entrega”. Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, faz aniversário em 22 de junho.
No ano anterior, Pinheiro mandou mensagem direto para o petista. “Querido Edinho, Parabéns. Desejo-lhe muitas felicidades. Receba um gde abraço. Léo Pinheiro”.
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares não era esquecido. Em 16 de outubro de 2012, quando já estava condenado pelo mensalão, recebeu uma garrafa de conhaque importado: “Aniversarios (sic) de 16/10: - Dr. Delubio Soares - cognac Hennessy Paradis”, informou Marcos Ramalho a Léo Pinheiro.
Gravatas
Em 30 de setembro de 2012, Marcos Ramalho lembra ao chefe os aniversariantes do dia. Junto ao nome constava o presente dado ou a ser dado. “Dr. Léo, seguem os aniversariantes de hoje, 30/09: Dr Junior - gravata; dr. Eunicio Oliveira - gravata; dr. José Mentor - corte”. Eunicio é senador pelo PMDB do Ceará, e Mentor, deputado do PT paulista.
O executivo da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva ganhou a biografia de Messi. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, também aparece na relação de aniversariantes de Pinheiro. Em 26 de setembro de 2013, Ramalho escreve ao chefe. “Também era para lembrar o senhor. Compra de presente do professor Luciano Coutinho, referente aniversário de 29 de setembro”.
Em 5 de setembro de 2012, Marcos Ramalho, secretário de Léo Pinheiro, lhe mandou uma mensagem, lembrando que no dia seguinte seria aniversário da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). “Dr. Zardi sugeriu que envie um Lenço da Hermés. tudo bem para o sr?”, pergunta Ramalho, fazendo referência ao então diretor de Relações Institucionais da OAS, Roberto Zardi Ferreira.
No ano seguinte, não é possível saber qual foi o presente dado. Mas fica claro que a data não passou em branco. Em 18 de setembro de 2013, Ramalho escreveu: “Dr. Leo, a ministra Gleisi Hoffman enviou para o Senhor e D. Mariangela (mulher de Pinheiro) um cartão de agradecimento pelo (sic) lembrança do aniversario (sic) dela. Vou scanear (sic) e enviar para o Senhor”.
Em 2014, em 6 de setembro, novo presente para Gleisi. Mensagem de um número de celular sem identificação diz: “Sen. Gleisi Hoffmann foi entregue no final da tarde de ontem pelo Barreto em sua res. em Brasília”.
Em 1º de agosto de 2013, Léo Pinheiro é lembrado do envio de presente de casamento ao filho do senador Fernando Bezerra (PSB-PE), ex-ministro da Integração Nacional de Dilma. “Dr. Varjão (executivo da OAS) orientou que entregasse o presente de casamento, no apartamento de doutor Fernando Bezerra, em São Paulo”. No relatório da PF há cópia de uma matéria com o título: “O badalado casamento do herdeiro de ministro FBC”, como se referem a Fernando Bezerra Coelho.
A legislação não proíbe que políticos recebam presentes, mas o código de conduta dos servidores públicos veda que integrantes do Executivo recebam mimos superiores a R$ 100.