Preocupado com a greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, que é contra o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ajuda até a seu ex-assessor especial Frei Betto, ligado à Igreja Católica, para conversar com dom Luiz. Lula determinou também o deslocamento de uma ambulância de Petrolina até Cabrobó para dar assistência médica ao bispo.

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O receio do Planalto é com o desfecho da greve de fome, uma vez que o bispo disse que está disposto a levar o protesto às últimas conseqüências. A atitude do bispo e as manifestações de apoio a seu protesto foram discutidas ontem na reunião de coordenação. A avaliação é que dom Luiz dá sinais de que está aberto ao diálogo.

Dom Luiz, sem comer há dez dias, ainda encontrou forças terça-feira para celebrar uma missa de quase três horas para cerca de 3 mil fiéis, muitos deles romeiros de cidades do Nordeste, que foram a Pernambuco para se solidarizar com seu protesto.

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- Tenho muito amor à vida. Não quero morrer. Quero viver. Vamos lutar pela vida do São Francisco e por esse pobre servo de Deus - disse o bispo.

Ele estava sereno, com as faces rosadas e sem demonstrar inquietação pela greve de fome. A cerimônia religiosa foi realizada no dia do aniversário de 59 anos do bispo, que recebeu solidariedade até de tribos indígenas.

Ele só bebe água e dorme numa capelinha de chão de cimento batido, com telhas aparentes e apenas duas portas e duas janelas. Ontem ele acordou cedo, fez uma pequena caminhada até o rio onde tem se banhado e depois sentou-se na capela, distribuindo bênçãos aos fiéis por mais de quatro horas. Paciente, abraçava crianças, recebia beijos nas mãos, abraços e carinhos. No pátio externo, índios erguiam seus instrumentos de percussão e dançavam o toré, ritual sagrado para dar força ao espírito dos mais necessitados.

O presidente da Comissão Pastoral da Terra, dom Tomás Balduíno, participou da celebração e disse que o presidente Lula será responsabilizado se dom Luiz morrer. Ele comparou a campanha do religioso brasileiro à de Gandhi, que libertou a Índia da colonização inglesa. Dom Tomás disse que a obra é faraônica, inadequada e destinada a reforçar o caixa dois das campanhas políticas.

Em Brasília, Lula acompanhou da rampa do Palácio do Planalto uma manifestação contra o projeto, e foi evasivo ao tratar da situação do bispo de Barra. Limitou-se a abrir os braços quando perguntado se a carta que mandou era suficiente. O Palácio do Planalto recebeu ontem recado informal de enviados da Nunciatura Apostólica em Brasília, de que a greve de fome de dom Luiz Flávio Cappio não tem o aval do Vaticano.

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