Ex-diretores decidiam atos a ser publicados
O jornal Folha de S.Paulo publicou ontem denúncia de que o ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia e o ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi decidiam por conta própria quais decisões deveriam ser publicadas no Diário Oficial do Senado e as que deveriam ser mantidas em sigilo. A reportagem foi baseada em entrevista do chefe dos Serviços de Publicação do Boletim de Pessoal do Senado, Franklin Albuquerque Paes Landim.
Ontem, o jornal O Globo também publicou uma nova denúncia. Segundo a reportagem, a Casa criou, ao longo dos anos, um sistema de beneficiamento financeiro de servidores, indicando-os para comissões especiais, com gratificações, para tratar dos mais variados e irrelevantes temas. O ex-diretor-geral Agaciel Maia se valeu até de portaria que deveria estar extinta desde 2002 para nomear, em 2008, servidores para comissões.
BRASÍLIA - Senadores descontentes com o escândalo dos atos secretos resolveram dar uma espécie de "voto de confiança" de alguns dias ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), depois do anúncio da criação de comissão com participação de auditores externos para investigar as decisões que não eram publicadas oficialmente pela instituição nos últimos 14 anos. Mas o grupo de 20 senadores que pede medidas moralizadoras no Senado pretende pressionar Sarney na semana que vem para que ele demita imediatamente o diretor-geral do Senado, Alexandre Gazineo, um dos envolvidos no escândalo.
Ontem, apesar da criação da comissão, Sarney não anunciou a punição de ninguém. Mesmo com a criação da comissão externa, os 20 senadores que assinaram documento com sugestões de mudanças na instituição vão cobrar a adoção das medidas moralizadoras do Senado na semana que vem.
A prioridade para eles é a demissão de Gazineo, com a nomeação do novo diretor aprovada em plenário. "O que eu defendo é um afastamento dos diretores envolvidos no episódio enquanto durarem as investigações", disse o senador paranaense Alvaro Dias, vice-líder do PSDB na Casa. "No final, se ficar comprovado que estão envolvidos, que as providências jurídicas sejam tomadas."
Alvaro Dias afirmou ainda que Sarney errou ao postergar o anúncio de medidas mais duras contra a crise que atinge a instituição. O tucano disse esperar, porém, que a comissão externa criada por Sarney traga resultados efetivos. "Essa providência poderia ter sido tomada no primeiro momento. Se ofereceu espaço para a crise crescer. As pessoas que vão compor a comissão têm que ser chamadas à realidade", afirmou.
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), afirmou que a criação de uma comissão externa foi uma medida "correta" adotada por Sarney. Mas disse esperar a nomeação de um novo diretor para a Casa, com a demissão de Gazineo. "O que achamos é que o presidente deveria nomear um diretor com mandato de dois anos, com o nome aprovado no plenário, o que automaticamente implica no afastamento do atual diretor", afirmou.
Integrantes de partidos da base aliada que estão no grupo dos descontentes também resolveram dar um voto de confiança a Sarney, por enquanto. "Para não ser sempre crítico, vamos dar crédito às medidas que ele (Sarney) anunciou", disse o senador Renato Casagrande (PSB-ES). "Se nada de concreto acontecer, aí a posição do presidente Sarney fica insustentável."
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Interatividade
Os envolvidos no escândalo dos atos secretos devem ser afastados durante as investigações ou fazer isso seria puni-los antecipadamente, sem haver comprovação das irregularidades?
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