25 foram os réus condenados no caso do mensalão. Gurgel participou dos quatro meses e meio de julgamento, mas já não estará mais no cargo de procurador para atuar na análise dos recursos, chamados de embargos de declaração, apresentados por todos eles.
Uma pessoa afável, de trato fácil e que deixou sua marca no Ministério Público. Mas também alguém que se descuidou das relações com os outros poderes e se viu tornar persona non grata no Congresso. No dia 15 de agosto, após quatro anos, Roberto Gurgel deixa o comando do Ministério Público Federal (MPF) como o procurador-geral da República que atuou no julgamento do mensalão e que não soube lidar bem com o Parlamento.
Já tendo atingido o ápice da carreira e com idade para se aposentar, Gurgel não deve ficar muito tempo no MPF depois de deixar o posto. Não terá tempo para atuar no julgamento dos embargos de declaração um tipo de recurso apresentados por todos os 25 réus condenados no mensalão. Mas esse processo deverá ficar como a grande marca dele na instituição.
Quem começou a ação penal 470 o processo do mensalão foi seu antecessor no cargo, Antonio Fernando de Souza. Mas foi Gurgel quem fez as alegações finais e atuou no caso por quatro meses e meio quando levado a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O processo e a falta de habilidade política de Gurgel o transformaram em alvo. Entre erros e acertos, os ataques feitos por políticos, sobretudo parlamentares do PT, tornaram-se rotina.
Polêmicas
Não foram poucas as polêmicas em que o nome de Gurgel apareceu. Sua atuação no mensalão, quando defendeu a condenação da maioria dos réus, rendeu tanto elogios como críticas. A demora em pedir a abertura de inquérito contra o ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO), mais de dois anos depois de tomar conhecimento dos primeiros indícios de irregularidade, teve bastante repercussão em 2012, durante a CPI do Cachoeira. O parlamentar foi acusado de pôr o mandato a serviço do bicheiro. Collor e o PT tentaram inclusive levá-lo a depor no Congresso e o acusaram de só tomar providências após o caso ganhar destaque.
Em 2011, pouco antes de ser reconduzido pela presidente Dilma Rousseff ao cargo, também gerou polêmica o parecer contrário à abertura de investigação para apurar o enriquecimento do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci. Em 2013, faltando poucos dias para a eleição da Mesa Diretora do Senado, Gurgel apresentou denúncia contra Renan Calheiros (PMDB-AL), o candidato favorito que viria a se eleger presidente da Casa. Já atacado pelo PT, ele acabou desagradando também ao PMDB.
A reportagem tentou falar com Gurgel, mas ele disse que não poderia dar entrevista.