Há um ano, o cenário político londrinense sofreu uma reviravolta. Acusados de subornar o então vereador Amauri Cardoso (PSDB), para votar contra a abertura da Comissão Processante da Centronic, o ex-secretário municipal Marco Cito e o ex-servidor público Ludovico Bonato foram presos em flagrante. O escândalo fez com que os vereadores aprovassem a CP que resultou na cassação do ex-prefeito Barbosa Neto (PDT).
O processo que tramita na 3ª Vara Criminal de Londrina pode ser concluído até agosto. O último ato, antes de o juiz Katsujo Nakadomari ser removido para a Vara de Execuções Penais (VEP), no começo de abril, foi a abertura de prazo para que os réus juntem novas provas. Depois disso, tanto o Ministério Público quanto os réus poderão fazer as últimas alegações antes que o juiz se manifeste. A decisão só não deve sair antes por conta da mudança na 3ª Vara Criminal. Ainda assim, pode-se dizer que o processo andou rapidamente em primeira instância.
Além de Cito e Bonato, são réus nesse processo o ex-secretário de Governo Rogério Lopes Ortega, o ex-diretor da Sercomtel Alisson Carvalho, o ex-presidente da empresa de telefonia, Roberto Coutinho e o ex-vereador Eloir Valença. Se no Judiciário o processo ainda prossegue, as consequências políticas das prisões foram devastadoras.
Efeitos
Cito e Bonato foram acusados de tentar subornar Cardoso para que ele votasse contra o pedido de abertura de Comissão Processante para investigar o chamado "Caso Centronic" a denúncia de que vigilantes terceirizados contratados pela Prefeitura davam expediente na emissora de rádio da família do ex-prefeito Barbosa Neto (PDT). De acordo com o ex-vereador do PSDB, os dois passaram a fazer contatos e ofereceram R$ 80 mil de propina. Seriam R$ 20 mil, apreendidos por volta das 12 horas do dia 24 de abril do ano passado (antes da votação), quando da prisão em flagrante; mais R$ 20 mil depois da votação e R$ 40 mil durante a campanha eleitoral.
A terceira tentativa de votação da CP seria naquela tarde. O escândalo teve consequências políticas: a comissão foi aprovada por unanimidade. No final de julho Barbosa Neto teria o mandato cassado pela Câmara, na conclusão dessa Comissão Processante. Foi o segundo prefeito de Londrina a ser cassado em 12 anos.
O escândalo da tentativa de compra de votos mudou a lógica da eleição municipal do ano passado. Até então a expectativa era de uma polarização entre Barbosa que mesmo fragilizado por diversas denúncias de irregularidades em sua gestão ainda era um candidato forte e o então vereador Marcelo Belinati (PP).
As duas prisões em flagrante foram seguidas por mais três mandados de prisão, contra Ortega, Carvalho e Eloir Valença o último cumprido no feriado de 1º de maio.
Maioria dos réus foi para a iniciativa privada
Dos seis réus na ação penal sobre a denúncia de compra de votos, cinco estão atualmente na iniciativa privada. O único que segue no setor público é o ex-vereador Eloir Valença, que é professor numa escola estadual. Todos negam envolvimento nas acusações. Maurício Carneiro, que defende o ex-secretário Rogério Lopes Ortega, disse que "não existe nenhuma prova" contra Ortega. "Ele foi preso porque foi procurado pelo Ludovico Bonato para almoçar", afirmou. Conforme Carneiro, no depoimento, o ex-vereador Amauri Cardoso (PSDB) disse que Ortega, o ex-diretor da Sercomtel Alysson Carvalho e o ex-presidente da Sercomtel Roberto Coutinho "nunca procuraram ele e nunca ofereceram nenhum tipo de vantagem".
Segundo o advogado, a "falta de provas" contra esses três réus os levaria à absolvição e descaracterizaria a denúncia por "formação de quadrilha", abrandando a pena. Procurados, o advogado de Bonato não atendeu às ligações. Os telefones de Marco Cito, Coutinho, Carvalho e do ex-vereador Eloir Valença estavam desligados. Amauri Cardoso que tentou a reeleição no ano passado, obteve 2.638 votos, ficou na suplência na chapa de vereadores do PSDB. Ele diz acreditar que o principal resultado político da denúncia de tentativa de suborno foi a mudança no cenário político local. "Se não fosse por aquilo, o prefeito hoje seria outro", declarou o ex-vereador, que voltou a ser diretor de escola municipal ele é professor do Município há mais de 20 anos.
Cardoso denunciou recentemente ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) que recebeu ameaças por telefone. "Uma voz masculina falou que sabia que eu não sei o que é ter sido preso e que sabe onde trabalho, toda a minha rotina, onde meus filhos estudam e onde a minha esposa trabalha e que vou pagar pelo que eu fiz", relatou. Quando ele perguntou quem estava falando, a ligação foi encerrada.