Quarta-feira, 16 de março de 2016. O dia em que os áudios de interceptações telefônicas do ex-presidente Lula na Lava Jato incendiaram o país e sepultaram de vez a possibilidade do ex-presidente virar ministro e escapar das “garras” do juiz federal Sergio Moro. Um ano depois, Lula responde a dois processos na Lava Jato em Curitiba e a outros três em outros estados, além de responder a diversos inquéritos tanto em primeira instância quanto no Supremo Tribunal Federal (STF).
16 de março de 2016, o dia dos grampos
Veja a sequência de eventos envolvendo a divulgação dos grampos, no dia 16 de março:
O primeiro ato relevante do dia para entender os fatos partiu de Sergio Moro. Às 11h12 da manhã, Moro determina que as gravações já foram suficientes e manda a Polícia Federal interromper as escutas.
Existem provas de que às 12h43 a PF já tinha recebido a ordem de Moro para interromper as gravações. Nesse horário, a Polícia Federal já tinha “empacotado” tudo o que havia conseguido e protocolado tudo na Justiça Federal. Trabalho, portanto, encerrado.
Mais de duas horas depois de Moro ter mandado interromper as gravações, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula conversam por telefone. No áudio, Dilma diz que está mandando o termo de posse de Lula para “caso de necessidade”. É esse áudio que incendiou o país à noite.
Os policiais federais fazem um adendo ao pacote entregue anteriormente, acrescentando o áudio e a transcrição da nova gravação. Em nota posterior, dizem que a operadora telefônica foi quem continuou a escuta depois da ordem. Mas não informam por que preferiram inclui-la no novo pacote.
Moro assina despacho levantando o sigilo do inquérito. Detalhe relevante: ao contrário do que acontece em outros casos, a imprensa não tinha acesso ao processo (número e chave) para vê-lo no sistema da Justiça Federal até este momento.
O G1 divulga reportagem com o conteúdo das gravações, inclusive a de Dilma com Lula.
A assessoria da Justiça Federal informa à imprensa a chave e a senha para que a imprensa tenha acesso ao inquérito.
Lula havia sido anunciado oficialmente como ministro da Casa Civil horas antes da divulgação dos áudios. A intenção era resolver dois problemas com uma única cartada. As investigações contra Lula na Lava Jato sairiam das mãos de Moro e, de quebra, o ex-presidente teria a missão de salvar a então presidente Dilma Rousseff (PT) do impeachment iminente.
No final da tarde, porém, Moro tirou o sigilo dos áudios das interceptações telefônicas. Entre as conversas grampeadas pela Polícia Federal estava uma ligação de Dilma, dizendo que estava mandando o “Bessias” entregar o termo de posse para que Lula usasse “em caso de necessidade”. Embora o grampo tenha sido feito depois da determinação para interrupção, o áudio continuou no inquérito como prova.
A conversa foi interpretada como obstrução da Justiça, na tentativa de tirar as investigações de Curitiba, e levou no mesmo dia milhares de pessoas às ruas para protestar contra a nomeação de Lula. No dia seguinte, mesmo assim, Lula tomou posse como ministro.
Apesar da posse, o ex-presidente ficou apenas 45 minutos no cargo. Uma liminar da Justiça Federal do Distrito Federal determinou a suspensão do ato. A briga judicial cheia de idas e vindas acabou mal para Lula, que foi impedido pelo STF de ocupar o cargo.
O episódio foi decisivo para a queda da ex-presidente Dilma, que já estava com a imagem bastante arranhada por causa da Lava Jato e das chamadas pedaladas fiscais, que deram origem ao pedido de cassação.
Quanto a Lula, um ano depois da divulgação dos áudios, o ex-presidente responde a dois processos em Curitiba sob os cuidados de Moro. Em um dos processos, já em fase avançada, Lula é acusado de ter recebido propina da OAS por meio da compra e reforma de um tríplex no Guarujá e no pagamento para o armazenamento de bens da presidência. Em outro, Lula é acusado por irregularidades na compra de um terreno para construção do Instituto Lula e no aluguel de um apartamento em São Bernardo.
O ex-presidente responde ainda a um processo na Operação Janus por fraudes no BNDES; a um processo na Operação Zelotes por tráfico de influência; e a um processo por obstrução de Justiça por ter supostamente tentado comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
No STF, Lula é alvo de pelo menos um inquérito da Lava Jato: o “inquérito mãe” que apura participação de pessoas ligadas ao PT no escândalo da Petrobras; e um que investiga a tentativa de obstrução de Justiça no episódio dos grampos. Ainda em Curitiba, a PF investiga também se Lula é o real proprietário de um sítio em Atibaia, interior de São Paulo.
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