O hacker que tentou extorquir a primeira-dama Marcela Temer em abril do ano passado não ameaçou divulgar apenas imagens íntimas da família, mas também o conteúdo de uma gravação obtida por ele no celular da vítima, que segundo ele comprometeria o presidente Michel Temer (PMDB).
Na troca de mensagens que consta do processo sigiloso que investigou o caso, obtido pelo pelo jornal O Globo, o hacker Silvonei José de Jesus Souza ameaçou divulgar um áudio enviado por Marcela ao irmão, Karlo Tedeschi. De acordo com o hacker, na mensagem a mulher de Temer teria dito que o marido tinha um marqueteiro que “faz a parte baixo nível”. As mensagens foram trocadas no período em que se discutia o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
“Achei que esse vídeo [que na verdade é um áudio] joga o nome de vosso marido na lama. Quando você disse que ele tem um marqueteiro que faz a parte baixo nível, pensei em ganhar algum”, escreveu Silvonei a Marcela Temer, no período que antecedeu ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
- Indicado ao STF diz que foi “surpreendido” por senadores com reunião em barco
- Tribunal mantém nomeação de Moreira Franco, mas tira direito a foro privilegiado
- Por que um juiz de 1.ª instância pode interferir em decisão do presidente? Entenda
- Fachin aceita pedido da PGR e abre inquérito contra Sarney, Renan e Jucá
O áudio mencionado pelo hacker - que teve acesso a todas imagens e conversas de Marcela Temer - não foi anexado ao inquérito, nem solicitado pelo Ministério Público ao pedir sua condenação na Justiça.
O caso foi investigado pela Polícia Civil de São Paulo sob a supervisão do então secretário de segurança Alexandre de Moraes. Moraes foi convidado para integrar o Ministério da Justiça após a investigação e recentemente foi indicado por Temer como ministro do Supremo Tribunal Federal.
De acordo com documentos do inquérito, Marcela respondeu ao hacker ao ser ameaçada:
“Você acha que isso prejudica alguém??? Então você quer dinheiro por causa desse áudio!? Você faz uma interpretação de um áudio e acha que tem algo errado aí!? Será que sou eu mesmo falando? Você me conhece? Minha voz?”, escreveu a primeira-dama.
Interpretação e contexto
Nesta sexta-feira (10), a assessoria de Temer divulgou nota informando que “a primeira-dama não fará comentários sobre esse conteúdo que já foi usado para fins criminosos e gerou condenação na esfera judicial”. A assessoria não quis responder quem é o marqueteiro citado na conversa.
“A frase está fora de contexto, misturando assuntos e referências para fins de chantagem e extorsão”, escreveu a assessoria do presidente, que citou a Lei Carolina Dieckmann como medida que “preserva os direitos de privacidade das pessoas que tenham seu sigilo violado no meio digital”.
Em depoimento, Silvonei afirmou ter tido acesso a dados de Marcela quando explorava aleatoriamente os arquivos de uma memória de celular que adquiriu no Centro de São Paulo. Ele clonou o aparelho e escreveu ao irmão de Marcela, Karlo Tedeschi fingindo ser a primeira-dama.
Na mensagem, a falsa Marcela dizia ao irmão que precisava de R$ 15 mil para pagar mão de obra de pintura. Karlo achou a mensagem estranha, mas fez o depósito em conta indicada na mensagem. Dois dias depois Karlo localizou a irmã, que negou ter lhe solicitado dinheiro e disse que seu telefone havia sido clonado.
Ao perceber que estava em posse de dados de Temer, o hacker tentou obter R$ 300 mil da família, sob ameaça de constranger Marcela “perante amigos, outros familiares e a mídia”, segundo denúncia apresentada na Justiça pela promotora Mara Silvia Gazzi.
Silvonei foi condenado no ano passado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) a cinco anos e 10 meses de prisão por estelionato e extorsão.
Reação
Pressionada a pagar R$ 300 mil para que as mensagens não fossem divulgadas, Marcela Temer reagiu à tentativa de extorsão. “Não devo nada pra ninguém, ok? Qual seu problema? Bandido aqui é você!! Sou do bem e você invadiu meu iPhone!! E aí? Como você fica? Isso é montagem... e aí, vai fazer o que? Quer me encontrar?”
Silvonei respondeu à primeira-dama. “Sabe que não é montagem, não tem cortes. É sua voz se identificando que estudava no porfírio”, escreveu o hacker, mencionando a Escola Estadual General Porfírio da Paz, que tem a primeira-dama na galeria de alunos ilustres.
“Bandido criminoso, minha vida é limpa e basta. Montagem é montagem. Não tenho medo de você. Não se a mando de quem que você...”, escreveu Marcela.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas