O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello iniciou seu voto sobre a denúncia contra dirigentes do Banco Rural nesta quinta-feira (6) reclamando do modelo adotado pela Corte para analisar as acusações contra os 37 réus do mensalão. De forma irônica, o ministro disse que "haja coração" para enfrentar a análise do caso de forma fatiada e que a situação dos réus a "cada passo se complica".
Os ministros discutem o segundo dos sete itens da denúncia. Nesse ponto, a maioria dos ministros do STF já reconheceu que houve fraude e simulação em empréstimos concedidos pelo Banco Rural a réus do mensalão e decidiu pela condenação de três dos principais gestores do banco à época.
"A cada passo complica-se a situação dos acusados. Diria no jargão carioca, haja coração ante o fatiamento ", afirmou."Continuo convencido de que o ideal seria realmente termos uma visão conjunta do processo, do que foi elaborado pelo relator e pelo revisor. Mas o tribunal decidiu e o colegiado é um órgão democrático", disse.
Zé Dirceu
Votando pela condenação de dois réus ligados ao Banco Rural, o ministro Marco Aurélio disse que os contatos deles com o empresário Marcos Valério e com o ex-ministro José Dirceu, também acusados no mensalão, foram fundamentais para caracterizar a gestão fraudulenta da instituição.
Marco Aurélio votou pela condenação da dona do Rural, Kátia Rabello, e do ex-vice-presidente José Roberto Salgado. Ele inocentou o vice-presidente do banco Vinicius Samarane e da ex-vice-presidente Ayanna Tenório.
A maioria dos ministros, no entanto, votou pela condenação de Kátia, Salgado e Samarane e confirmou a absolvição de Ayanna.
Para Marco Aurélio, a situação da dona do Rural e do ex-vice-presidente foi complicada pelas relações mantidas com o empresário e o ministro. "É conducente assentar que a culpa de Kátia Rabello e Salgado, não pelas simples condições que tinham em termos de cargos ocupados no banco, mas dos contatos mantidos, inclusive com Marcos Valério, inclusive com o então chefe da casa civil, José Dirceu, e da gerencia do próprio banco", afirmou.
"Não posso diante desse fato assentar que não haveria o comprometimento sob o ângulo da autoria. Não posso colocar em segundo plano o que a meu ver e também sob a ótica dos demais integrantes, revela a materialidade do crime de gestão fraudulenta", completou.
Seguindo a linha dos sete ministros que já votaram, Marco Aurélio disse que classificaria os empréstimos seriam de gaveta. "Pudesse emprestar um rótulo a esses empréstimos, emprestaria os de empréstimos de gaveta."
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