Novo ministro da Justiça, o deputado federal paranaense Osmar Serraglio (PMDB) ficou nacionalmente conhecido em 2005, quando assumiu o cargo de relator da CPI Mista dos Correios, que investigou o escândalo do mensalão, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Saiu daquela apuração como uma espécie de herói da moralidade pública. Doze anos depois, o destino de outro escândalo de corrupção volta a cair em suas mãos: o petrolão. O ministro da Justiça é o superior imediato da Polícia Federal (PF) e, em tese, é quem dá suporte à Operação Lava Jato. Desta vez, porém, Serraglio é alvo de suspeitas e tem sua imagem arranhada – de forma injusta, segundo ele. Terá tempo para provar que não vai terminar sua biografia como “anti-herói”.
O trabalho do paranaense na CPI dos Correios o colocou numa seleta lista de “deputados éticos” perante a opinião pública. Integrante do PMDB, partido da base do então presidente Lula, Osmar Serraglio não poupou em seu relatório final os petistas e peemedebistas envolvidos. Esse material contribuiu para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) formulasse as denúncias ao Supremo Tribunal Federal (STF) que, em 2013, levaram os primeiros políticos de alto escalão a serem presos na história do país.
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Numa entrevista à Gazeta do Povo em 2015, afirmou que o esquema do mensalão foi o embrião do petrolão. “Com o fim do esquema do mensalão, os partidos e políticos envolvidos precisaram buscar outra forma de financiamento. A Lava Jato mostra os desvios da Petrobras como uma espécie de segundo caminho”, disse Serraglio.
Recentemente, também declarou que a Lava Jato é “intocável”. Mas, nesse caso, ele acabou saindo da lista dos “éticos”. O paranaense não é investigado pela força-tarefa. Mas foi um dos parlamentares que votou, em novembro, pela “mutilação” do projeto das “Dez Medidas de Combate à Corrupção” apresentadas pela força-tarefa da Lava Jato.
Antes disso, como presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, havia sido alvo de questionamentos por supostamente permitir sucessivas manobras para adiar o julgamento do processo de cassação do então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – hoje preso pela Lava Jato; e que acabou sendo cassado.
Serraglio argumentou à época que apenas cumpriu o que determinava o regimento interno – e que se não fizesse isso, o processo poderia voltar à estaca zero ao ser questionado pela defesa de Cunha. Considerou ter sido injustiçado. Em julho, desabafou em entrevista à Gazeta do Povo : “Isso [a acusação de favorecer Cunha] nunca apaga, nunca apaga. Vocês não sabem o que isso significa para um parlamentar. Eu, sinceramente, talvez não saia mais candidato a nada em virtude disso”.
Acabou sendo o “candidato” da bancada do PMDB, que tem deputados investigados na Lava Jato, à vaga aberta no ministério do presidente Michel Temer – outro citado nas investigações. Terá de dissipar as desconfianças em torno de seu nome.
Relações com Temer
Deputado federal em sua quinta legislatura, desde 1999, Serraglio tem 68 anos. Nasceu em Erechim, no Rio Grande do Sul. Mas tem como base eleitoral a região de Umuarama, no Noroeste do Paraná.
Serraglio é formado em Direito pela antiga Faculdade de Direito de Curitiba (hoje UniCuritiba). Também tem mestrado em Direito de Estado pela PUC de São Paulo – fato que o leva a dizer que, além de político, tem perfil técnico para o ministério.
Serraglio também foi aluno de Michel Temer. As relações com Temer não se restringiram ao mundo acadêmico. No primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014), Serraglio foi indicado pelo então vice-presidente para ser vice-líder do governo na Câmara. Ele também foi um dos primeiros peemedebistas a abandonar o barco de Dilma e a cerrar fileiras pelo impeachment. No ano passado, votou por afastar a petista da Presidência.
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