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Moreira Franco se tornou inimigo de Eduardo Cunha após este ter deixado a presidência da Câmara. | Valter Campanato/Agência Brasil
Moreira Franco se tornou inimigo de Eduardo Cunha após este ter deixado a presidência da Câmara.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pela Câmara dos Deputados, em setembro, colocou o ex-parlamentar em rota de colisão com o Palácio do Planalto.

Cunha, preso nesta quarta-feira (19), culpou publicamente o governo do presidente Michel Temer (PMDB) de não ter feito nada para evitar a perda de seu mandato. E, dias depois, levantou suspeitas contra um dos homens fortes de Temer: o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco.

As declarações foram interpretadas como ameaças de que o ex-presidente da Câmara estaria disposto a comprometer o Planalto em uma eventual delação premiada.

Na primeira entrevista após a cassação, Cunha acusou Moreira Franco de estar por trás de irregularidades na operação para financiar obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. A obra é alvo de investigação da Lava Jato.

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O ex-deputado disse ainda que secretário é “o cérebro” da gestão Temer e que o novo plano de concessões de serviços públicos para a iniciativa privada, coordenado por Moreira Franco, “nasce sob suspeição”.

Também deu sinais de que o caso pode atingir Temer. “Na hora em que as investigações avançarem, vai ficar muito difícil a permanência do Moreira no governo”, afirmou.

Cunha culpa Moreira Franco por ter articulado a candidatura de seu genro, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para ser presidente da Câmara. Maia foi quem conduziu o processo de cassação de Cunha no plenário da Casa.

Outra acusação

Moreira Franco foi alvo nesta semana de outra acusação envolvendo a Lava Jato. Segundo reportagem da revista Veja, o ex-diretor da empreiteira Odebrecht Cláudio Melo Filho disse, em delação premiada, que pagou R$ 3 milhões em propina para o secretário de Temer.

O pagamento teria ocorrido em 2014, quando Moreira Franco era ministro da Aviação Civil no governo de Dilma Rousseff. A propina teria sido para que ele engavetasse o projeto de construção de um terceiro aeroporto na Grande São Paulo – proposta que o então ministro defendia.

A Odebrecht lidera o consórcio que administra o Aeroporto do Galeão, no Rio, e acreditava que perderia dinheiro com um novo terminal no Sudeste do país. Além do Galeão, o novo aeroporto paulista concorreria diretamente com os terminais de Viracopos (em Campinas) e de Cumbica (Guarulhos) – todos concedidos à iniciativa privada. O projeto do terceiro aeroporto não saiu do papel.

Moreira Franco nega ter recebido propina.

Troca de mensagens

O caso do novo aeroporto tem uma relação com Cunha. Em mensagem de Cunha para o empreiteiro da OAS Leo Pinheiro, interceptada pela Lava Jato em agosto de 2014, o então deputado reclama de uma doação legal de R$ 5 milhões da empresa para a campanha eleitoral de Temer.

O peemedebista busca dizer que ele é mais confiável que outros peemedebistas. E destaca que Moreira Franco, aliado de Temer, já havia se posicionado contra interesses da OAS, sem especificar quais.

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Na resposta, Pinheiro diz que o caso com Moreira Franco já havia sido contornado: “Te explico pessoalmente. O assunto foi GRU [sigla do aeroporto de Guarulhos]”. A empreiteira OAS é uma das sócias de Cumbica e também estaria contra a construção do novo aeroporto.

Distância

O Planalto buscou se distanciar do assunto e foi lacônico em seu pronunciamento oficial. “O governo tem zero preocupação quanto a uma eventual delação. O Planalto não interfere na Lava Jato e a prisão de Cunha é uma ação da Justiça, um poder independente”, afirmou Márcio Freitas, secretário de imprensa da Presidência.

Freitas ainda negou que Temer tenha antecipado em 12 horas a volta de sua viagem ao Japão em função da prisão. O governo também orientou aliados a evitar fazer comentários públicos sobre o assunto. O motivo: medo de retaliação da parte de Cunha.

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