Um escândalo de financiamento não pago no Banco da Amazônia (Basa) tirou o senador Romero Jucá (PMDB-RR) do Ministério da Previdência em 2005 e, agora, pode complicar seus planos de voltar ao primeiro escalão num eventual governo Michel Temer. O senador, que escapou da investigação penal sobre o assunto porque os crimes prescreveram, não se livrou do débito. E Jucá está sendo cobrado por isso até hoje. Desde o ano de 2000 com ação judicial de cobrança, o Basa tenta receber pagamento do empréstimo que o senador e outros sócios fizeram e não pagaram. No início do processo, a dívida era calculada em R$ 10 milhões.
Jucá tem contas a acertar ainda em outros inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Um deles foi aberto no âmbito da Operação Lava Jato, outro resultou da Operação Zelotes, em que o senador é investigado por suposto envolvimento em venda de emendas a medidas provisórias favoráveis a montadoras de carro. O senador também responde, desde 2010, a um inquérito em que é acusado de usar “laranjas” para esconder que seria o verdadeiro dono da TV Caburaí e desviar dinheiro da contribuição previdenciária de funcionários da emissora.
Na ficha de Jucá, um dos casos mais ilustrativos é a dívida com o Basa. O processo de cobrança judicial tramita na 4ª Vara Civil e Empresarial de Belém. Pelas informações disponíveis na página do Tribunal de Justiça do Pará na internet, os autos já estão concluídos para a juíza Rosana Lúcia Canela Bastos. O escândalo do financiamento não pago do Basa teve início em 2005, quando Jucá foi chamado para assumir o Ministério da Previdência na gestão do então presidente Lula.
O senador e o sócio, Getúlio Alberto de Souza Cruz, foram acusados de usar sete fazendas fantasmas como garantia de um empréstimo em nome da empresa Frango Norte. O empréstimo contraído na década de 1990 não foi pago, e o projeto do abatedouro ficou no papel. Jucá escapou de maiores dissabores com a Justiça por conta da prescrição das penas. Como os crimes atribuídos ao senador teriam acontecido entre 1995 e 1996, a Procuradoria-Geral da República entendeu que não poderia mais continuar com a investigação e pediu o arquivamento do caso em 2008. A decisão do STF não exime o senador e o sócio das responsabilidades financeiras.
Procurado pelo GLOBO na última terça-feira (26), Jucá se limitou a falar sobre parte do caso. “Fui sócio cotista (da Frango Norte) durante 1,5 ano, quando a empresa recebeu R$ 750 mil de financiamento. Saí da empresa há 19 anos, e o questionamento ao STF foi arquivado”, disse por meio da assessoria. Na sexta-feira, o jornal tentou falar com Jucá especificamente sobre a cobrança judicial do Basa, mas o senador não retornou o recado deixado no celular dele.
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