O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB- AL), anunciou na tarde desta segunda-feira que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, só vai ao Congresso na semana que vem. Renan Calheiros disse que, apesar do pedido do ministro para antecipar seu comparecimento para falar sobre a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, setores da oposição "querem ouvir outras pessoas antes".
Mais cedo, o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), disse que a oposição quer ouvir primeiro, na CPI dos Bingos, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso. A convocação de Mattoso deve ser votada nesta terça-feira na CPI.
- Não tem consenso. Não sou eu quem está adiando nada. Eu preciso marcar as datas de acordo com os líderes e há divergências tanto no governo quanto na oposição. O que eu posso é assegurar que semana que vem ele vem com certeza - disse Renan.
Pressionado pela oposição e diante da denúncia de que teria participado de uma reunião para tratar da defesa do então ministro da Fazenda Antonio Palocci no episódio, Bastos protocolou nesta segunda-feira no Senado uma petição para comparecer ainda esta semana ao Congresso. Devido ao feriado da Semana Santa, ele pretendia ir nesta terça ou quarta-feira. Ele terá que explicar sua atuação e o envolvimento de seus assessores na quebra do sigilo do caseiro. O assunto foi discutido numa reunião na manhã desta segunda-feira com a coordenação política do governo.
No fim de semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ao ministro da Justiça que esclarecesse o episódio o mais rapidamente possível. Lula disse a assessores que a oposição vai usar Bastos para tentar desgastar o governo. Ele demonstrou irritação com a tentativa de tucanos e pefelistas de explorar o episódio. Para o presidente, a oposição vai apelar de todas as formas para atingir o governo e, por isso, o ministro da Justiça tinha que neutralizar o discurso dos adversários.
- Na verdade, o que a oposição quer é atingir Lula. Estão me usando para isso. Essa é uma estratégia para desgastar o governo - desabafou Bastos para um amigo neste fim de semana.
Bastos sustenta que tomou a decisão de ir ao Congresso ainda esta semana por causa das críticas da oposição, que o acusava de querer tentar postergar sua inquirição. Mas a cobrança por explicações ganhou força com a revelação de que o ministro participara de uma reunião com Palocci que tratou da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), disse que o momento da crise impõe que Bastos vá o quanto antes dar suas explicações aos deputados e senadores.
- O ministro da Justiça é quem comanda a Polícia Federal, responsável pela investigação. Ele coloca o governo em xeque e precisará ir ao Congresso o quanto antes. E que vá com bons argumentos para desmanchar a cadeia de evidências, que é muito forte - disse o senador.
Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Junior (BA), o ministro da Justiça agiu como suspeito ao se antecipar à convocação.
- Como criminalista, o ministro sabe o que um suspeito tem que fazer. Ele é suspeito porque a quebra de sigilo foi uma operação de governo. Para salvar Palocci, todos se envolveram. A ação de Márcio no episódio não foi a de um ministro, mas a de um partidário, para sustentar o ministro da Fazenda - observou.
O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), defendeu Bastos e disse ter certeza que jamais o ministro participaria de uma conversa que fosse incompatível com sua função:
- Tenho absoluta e total confiança na postura do ministro. E a presença dele no Congresso, seja nesta semana ou depois, terá a função de explicar e tornar públicos os fatos ocorridos.
Para o presidente da CCJ e vice-líder do governo, deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), Bastos acertou ao antecipar-se à convocação do Congresso para esclarecer o episódio.
- Ele acerta ao tomar a iniciativa. Até porque não tem nenhuma responsabilidade no episódio. Se ele tivesse sido comunicado sobre a quebra de sigilo, certamente teria evitado isso. Também não vejo problema algum no fato do Márcio ter se encontrado com Palocci e o advogado. Afinal, eles eram amigos - observou Sigmaringa.
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