Pela primeira vez, em mais de um século, a proporção de católicos parou de cair e se manteve estável entre os anos de 2000 e 2003, passando de 73,89% para 73,79%. O número de evangélicos continua crescendo (de 16,2% para 17,9%) e o das pessoas que não têm qualquer religião sofreu queda de 7,4% para 5,1%. Os dados constam de pesquisa "A economia das religiões - mudanças recentes", divulgada nesta quarta-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para o pesquisador Marcelo Nery, responsável pelo estudo, a chamada "reação católica" pode estar relacionada à melhoria na distribuição de renda entre as camadas mais pobres da população (classe E), que ao lado da elite econômica (classe A) é a mais representativa da religião católica. Segundo Nery, a transferência de renda proporcionada por programas de assistência, como o Bolsa Família, contribuiu para que os mais pobres deixassem de abandonar o catolicismo.
- Quando as condições econômicas são favoráveis, as pessoas deixam de procurar novas religiões - explicou Nery.
Pentecostais cresceram mais na periferia
O estudo também revela que com a crise metropolitana nas últimas décadas, o inchaço das grandes cidades, o aumento da violência e a piora do acesso aos serviços públicos, as igrejas evangélicas pentecostais (Assembléia de Deus, Universal do Reino de Deus etc.) e os sem religião tiveram um crescimento mais expressivo nas periferias. Nery acredita que com o surgimento dessa "nova pobreza", as pessoas seguem em geral dois caminhos:
- Ou se apegam a religiões de práticas mais intensas, como as pentecostais, ou perdem a esperança e viram sem religião - disse.
Segundo o pesquisador, o crescimento das igrejas pentecostais nessas áreas também pode ser entendido como uma forma de ocupar uma lacuna deixada pelo Estado, com desemprego, favelização, precariedade de acesso aos serviços públicos.
Em termos econômicos, a pesquisa mostra que a renda familiar per capita dos fiéis das igrejas pentecostais é 30% menor do que a dos católicos. Enquanto uma família católica tem renda média de R$ 2.023, o valor cai para R$ 1.496 quando a família é de pentecostais.
Ainda conforme aponta a pesquisa da FGV, as mulheres são mais religiosas do que os homens. De um total de 50 religiões observadas, a predominância feminina foi verificada em 43 delas. Elas são, no entanto, menos católicas do que os homens (76,16% contra 79,49%). Muitas mudaram de religião:
- Quando você começa a estudar o budismo, começa a prestar mais atenção ao seu interior. Nas coisas que você pensa, nas coisas que você fala - diz a artista plástica Vivian Scortegagna.
Marcelo Nery explicou que, com a revolução feminina e a entrada no mercado de trabalho, as mulheres passaram a ter novas necessidades que não foram correspondidas pela Igreja Católica, como o uso de métodos contraceptivos e a possibilidade do divórcio.
A pesquisa também revelou que a Igreja Católica parou de perder fiéis no Brasil. Na década de 90, o número diminuía 1% a cada ano, mas a partir de 2000 não houve mais queda. Ainda assim, o número de evangélicos continua crescendo. O estudo aponta que uma das explicações é o número de pastores: quase quatro vezes maior que o de padres.
Além de usar dados do IBGE, a FGV saiu a campo em 2003 para entrevistar mais de 200 mil brasileiros sobre religiosidade e economia.