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A crise no crédito imobiliário de alto risco nos Estados Unidos não afetará as operações de construtoras e incorporadoras no Brasil no curto prazo, embora tenha impacto sobre o valor de empresas do setor na Bolsa de Valores de São Paulo, avaliam executivos.

"A gente só tem um problema desse depois que o mercado se desenvolveu demais. Nos EUA deram tanto financiamento para quem merecia crédito, que precisaram dar para gente que não tinha tantos meios. No Brasil é completamente diferente, somente agora estamos dando os primeiros financiamentos imobiliários", disse o presidente da Gafisa, Wilson Amaral.

"O perigo que existe é o negócio sair do subprime, pegar os EUA como um todo... Nas últimas semanas, as nossas ações sofreram por causa desse movimento internacional, e ainda não sabemos se acabou. Mas, do ponto de vista de fundamento, a perspectiva para o setor continua sendo de crescimento, principalmente por causa do crédito."

Enquanto nos EUA o volume de crédito imobiliário é correspondente a mais de 60 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e no México é de cerca de 10 por cento, no Brasil a relação não supera 2 por cento.

A crise do financiamento imobiliário nos EUA derrubou as bolsas de valores globais nas últimas semanas. Bancos centrais de todo o mundo injetaram centenas de bilhões de dólares para garantir liquidez ao sistema financeiro, após problemas com hedge funds expostos a ativos imobiliários de risco.

No Brasil, o principal índice da Bovespa registrou a quarta queda consecutiva nesta terça-feira.

A Cyrela, única ação do setor imobiliário no Ibovespa, está entre as principais quedas entre os papéis que compõem o indicador nas últimas sessões. Procurada pela Reuters para comentar o assunto, a Cyrela informou que está em período de silêncio até quarta-feira, quando divulga seu resultado trimestral.

Pouco impacto na rua

O diretor de Finanças e Relações com Investidores da Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário, Paulo Mazzali, observa que o impacto sobre as ações do setor de construção no país existe, mas "afeta muito pouco o mercado imobiliário na rua".

"O investidor fica mais avesso ao risco e ações são mais voláteis naturalmente. Mas nosso mercado funciona a longo prazo. O reflexo para o Brasil (com a crise no crédito dos EUA) é muito mais limitado. Nós temos um déficit habitacional de 8 milhões de unidades que eles não têm", comentou.

"Esse crédito subprime dos EUA ficaria no nosso país na faixa entre 50 mil até 100 mil reais, se tanto. Hoje existem pouquíssimas empresas atuando ali. Elas estão se preparando, nem chegaram ainda. Mas se isso se espalhar para o mercado, pode pesar mais sobre as ações e diminuir o volume de recursos para investimento. Nós trabalhamos com o cenário de antes dessa crise, as perspectivas, por enquanto, se mantêm."

Segundo Amaral, presidente da Gafisa, a principal marca da empresa voltada ao segmento econômico, a FIT Residencial, atenderia a um público com renda próxima à dos clientes do crédito subprime nos EUA. A FIT Residencial lançará até 10 projetos entre agosto e dezembro deste ano no valor de cerca de 200 milhões de reais.

Para 2008, esses produtos - altamente dependentes de crédito imobiliário - podem crescer mais de 25 por cento no portfólio da Gafisa.

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