É hoje o dia, embora seja apenas o primeiro de um período de necessária convivência entre os Poderes Executivo e Legislativo que vai além do momento da escolha dos presidentes da Câmara e do Senado. As consequências começam a se apresentar e a exigir administração competente a partir de amanhã. Aí é que serão elas.
Independentemente de quais sejam os resultados das eleições para as presidências das duas Casas o PMDB sairá do processo que culminou com as disputas de hoje maior, e o governo menor do que entrou.
Poderia ser diferente? Poderia, se o governo tivesse realmente ficado equidistante ou se tivesse entrado no jogo para conciliar os aliados em nome de seus próprios interesses. Mas, não. Os gênios da lâmpada do Planalto resolveram que, uma vez havendo consenso na sociedade de que o modelo de coalizão fisiológica está esgotado, este seria o pretexto ideal para dar um chega para lá no PMDB.
Só que a ideia não era remodelar coisa alguma, mas reduzir a influência do maior parceiro, substituindo-o por outros integrantes da base menos poderosos, mais dóceis e, em decorrência, mais fiéis e menos exigentes.
A eficácia do plano, porém, esbarrou no primeiro obstáculo. O governo retirou ministérios importantes do PMDB. O partido detectou o movimento. O Planalto entregou pastas de peso a legendas comandadas por políticos que, pela ótica da "nova ordem", garantiriam a compensação.
Ocorre, porém, que os peemedebistas fizeram o mesmo. Aproximaram-se da oposição e foram em busca das possibilidades de divisões na base aliadas, que não são poucas e por eles bastante conhecidas.
No Senado, por exemplo, uma série de fatores levou a candidatura dissidente de Luiz Henrique a ganhar corpo nos últimos dias ao ponto de ameaçar a reeleição de Renan Calheiros. Nenhum deles relacionados à distribuição de cargos ou liberação de dinheiro de emendas ao Orçamento.
A alguns senadores motiva derrotar o candidato preferido do Planalto por simples revanche decorrente de insatisfações acumuladas; a outros, os de oposição, interessa conquistar espaço para atuação; à maior parte deles desconforta a imagem que o senador não mede esforços nem respeita regras quando os interesses dele combinam com as conveniências do governo.
No lugar de apresentar uma candidatura só para marcar posição, os oposicionistas foram buscar um nome com tradição no PMDB, ex-presidente do partido, "emedebista" histórico, a fim de disputar para valer. Se perder, terá tido número considerável de votos para reforçar o grupo de peemedebistas até então alijado das decisões do partido. No conjunto a legenda sai mais forte.
Na Câmara, com qualquer resultado a consequência será a mesma. Ali o interesse da oposição e de boa parte da base aliada é derrotar o governo, o PT ou ambos.
Ganhando, Eduardo Cunha estará sentado na presidência da Câmara dividindo o poder congressual com outro colega de partido no comando do Senado. Perdendo, terá tido volume expressivo de votos e será líder da maior bancada da Casa.
No frigir, o governo acabou alimentando adversários ao tentar desidratar um aliado do qual não vai se livrar tão cedo. No quesito "expertise" política, antiguidade também é posto.
Cerimonial
No dia seguinte ao lançamento de sua candidatura à presidência do Senado, Luiz Henrique procurou o ministro da Casa Civil, Aloízio Mercadante.
O senador foi discretamente ao encontro do ministro para pedir a isenção do governo na disputa e comunicar que, se eleito, não faria oposição permanente ao governo.
Mercadante fez que acreditou e prometeu imparcialidade. O senador da mesma forma agradeceu e oficialmente confiou na palavra.
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