Anunciada há dez dias pelo governo do estado como item de destaque no “pacote anticrise”, a redução do imposto sobre heranças e doações é uma meia verdade. De acordo com a proposta de mudança na cobrança do Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação de Bens e Direitos (ITCMD), transações de bens acima de R$ 375 mil passarão a pagar mais à Receita Estadual se o projeto virar lei. Entidades do setor produtivo, porém, já se preparam para pressionar os deputados a não aprovar a matéria, que deve chegar à Assembleia Legislativa nesta segunda-feira (14) em regime de urgência.
O governo precisa fazer como todo mundo e cortar gastos. Queremos eficiência de gestão pública. Onde está a redução de impostos que o governo vende à população?
Cobrado sobre o valor da herança recebida por parentes de pessoas que morreram ou sobre doações de bens feitas ainda em vida, o ITCMD é de 4% do montante de todas as operações, independentemente do valor. A ideia do Executivo é estabelecer alíquotas progressivas do imposto de zero a 8% do valor do bem. Pela proposta, transações de até R$ 25 mil serão isentas. Além disso, haverá deduções na cobrança dentro de cada alíquota, a exemplo do Imposto de Renda.
Na prática, pessoas que herdarem ou receberem doações até R$ 375 mil terão redução de imposto em relação ao que ocorre hoje ou continuarão pagando a mesma quantia. A partir desse valor, porém, os contribuintes paranaenses passarão a pagar mais imposto do que atualmente. Em Curitiba, em média, R$ 375 mil correspondem hoje a um apartamento de dois quartos com área privativa de 65 metros quadrados ou um terreno de 360 metros quadrados sem qualquer benfeitoria fora da região central.
Fazenda defende medida
Diretor-geral da Secretaria da Fazenda, George Tormin defendeu que a maioria esmagadora dos paranaenses vai pagar menos imposto com o novo modelo do ITCMD. Segundo ele, valores maiores passarão a ser pagos por pessoas que têm capacidade de arcar com esse aumento. “Sempre terá chiadeira. Mas buscamos equilibrar a tabela e torná-la mais justa. A atual tabela é injusta, ao taxar linearmente as transações em 4%, sem progressão”, afirmou.
Também deve ser alterado o trecho atual da legislação que isenta do pagamento do ITCMD − seja qual for o valor envolvido – herdeiros que morem no imóvel da pessoa que morreu e que não tenham outros imóveis. Haverá “restrições” a esse benefício.
As alterações farão com que o Paraná assuma a liderança do ranking nacional na taxa de cobrança do ITCMD. Hoje, apenas Bahia, Ceará e Santa Catarina cobram a alíquota máxima de 8% sobre heranças. No caso das doações, somente os catarinenses taxam as transações em 8%.
Críticas
Contrárias ao projeto do governo, entidades do setor produtivo paranaense criticam a medida diante do aumento de 40% na alíquota do IPVA e de 12% para 18% na alíquota do ICMS de 95 mil itens de consumo popular, em vigor desde abril. A elevação da carga tributária permitiu que o Executivo falasse, em agosto, em fechar o ano de 2015 com um superávit primário de R$ 2 bilhões.
“O cidadão paranaense simplesmente não consegue pagar mais impostos. O governo precisa fazer como todo mundo e cortar gastos. Queremos eficiência da gestão pública. Não é criando superávit à base do aumento de impostos que isso vai ser alcançado”, afirma Luiz Carlos Borges da Silva, vice-presidente de Planejamento do Sindicato da Habitação e Condomínios no Paraná (Secovi-PR). “Onde está a redução de imposto que o governo está tentando vender à população? Trata-se de um grande engodo.”
Na mesma linha, o presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Antonio Espolador Neto, defende que a economia nacional vive a pior fase dos últimos anos e não suporta mais um aumento na carga tributária. “O governo precisa parar de majorar impostos, e tentar ajudar a indústria e o comércio. Que os deputados ponham a mão na consciência e não aprovem esse projeto.”
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Síria: o que esperar depois da queda da ditadura de Assad
Deixe sua opinião