José Graziano, que já é representante da FAO, vai disputar a direção do órgão com um espanhol e um indonésio| Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil

Por dentro da FAO

Veja quais são as atribuições do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura:

> Fundação: 16 de outubro de 1945.

> Objetivos: atuar como fórum neutro para a discussão de políticas de agricultura e alimentação; dar assistência a países subdesenvolvidos; informar sobre nutrição, comida, agricultura, florestamento e pesca; aconselhar governos.

> Recursos: possui um orçamento anual de cerca de R$ 2,7 bilhões e um quadro de 4 mil funcionários.

> Comando: o atual diretor-geral é o senegalês Jaques Diouf, no cargo há 18 anos.

> Eleição: será realizada entre os dias 25 de junho e 2 de julho. Além do brasileiro José Graziano da Silva, participarão o espanhol Miguel Angél Moratinos e o indonésio Indroyono Soesilo.

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Brasília - Após sinalizar uma política externa mais dura em relação a países que desrespeitam os direitos humanos, contrariando os laços do governo Lula com nações como o Irã, a presidente Dilma Rousseff (PT) dá mostras de continuidade da estratégia diplomática ao concentrar esforços pela candidatura de José Graziano da Silva para a direção-geral do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A decisão ressalta o interesse em fortalecer as relações com parceiros mais pobres do hemisfério sul e de posicionar o Brasil como referência no combate à fome e potência agropecuária.

A campanha de Graziano começou ontem, na Etiópia, durante a abertura da cúpula anual da União Africana. O brasileiro terá como principal adversário o ex-chanceler espanhol Miguel Angél Moratinos. Para vencer, precisa do apoio da África – os 53 votos do continente correspondem a um quarto dos membros da FAO e são necessários, no total, cerca de 75 para a vitória.

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"Durante o governo Lula, foram abertas 14 embaixadas em países africanos. Faz sentido que Dilma reitere a preocupação com essa zona de influência", diz o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Virgílio Arraes.

Conquistar o cargo, contudo, tem mais vantagens simbólicas do que práticas. Em primeiro lugar porque pode encerrar um ciclo de tentativas frustradas do Brasil de conseguir postos relevantes em organismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a União Internacional de Tele­­comu­nicações (UIT) e a Orga­­nização Mundial de Propriedade Inte­lectual (OMPI).

Além disso, a vitória serviria como reconhecimento ao fato de o país ser o maior produtor agrícola mundial. Por outro lado, a ideia do Brasil como "potência alimentar" também pode atrapalhar em função dos interesses dos países mais ricos. "O Brasil é um candidato natural e legítimo, mas que assusta pela força intrínseca que tem", diz Alberto Pfeifer, do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo.

Em linhas gerais, a FAO atua como um mediador entre as necessidades de mercado dos produtores agrícolas e a sustentabilidade social e ambiental do setor. O controle da entidade é considerado importante porque envolve a condução da agenda sobre esses dois temas. "Por exemplo, ao invés de o Brasil ser recriminado pela poluição provocada pela emissão de gás metano dos bois, pode ser apontado como parte da solução para o problema da falta de proteína na alimentação mundial", analisa Pfeifer.

Outro benefício seria a consolidação da imagem brasileira como "exportador" de políticas públicas de combate à fome. Só o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome possui atualmente 62 instrumentos de cooperação com outros países do hemisfério Sul. Graziano, que desde 2006 é representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe, foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, em 2003.

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Apesar de o otimismo com a campanha brasileira ser justificável, a disputa pela direção-geral é imprevisível. A eleição, que ocorre entre os dias 25 de junho e 2 de julho, possui sucessivos turnos, que eliminam o aspirante menos votado. Ao todo, Graziano já conta com o apoio formal de 12 países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e mais 8 da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

Já espanhol Moratinos, que em tese deve contar com o apoio europeu, tem o respaldo econômico de seu país. A Espanha foi um dos principais contribuintes financeiros da FAO nos últimos anos. Além dos dois, corre por fora um terceiro candidato, o indonésio Indroyono Soesilo.

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O Brasil tem a ganhar com a eleição de um brasileiro para a FAO?

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